Coca-Cola FEMSA é a maior engarrafadora de produtos Coca-Cola do mundo em volume de vendas. A empresa produz e distribui bebidas sob as marcas registradas da The Coca-Cola Company, oferecendo um amplo portfólio de 129 marcas para mais de 265 milhões de consumidores. Com mais de 80 mil funcionários, a companhia comercializa e vende por ano aproximadamente 3,3 bilhões de caixas unitárias por meio de quase 2 milhões de pontos de venda. Operando em 49 unidades fabris e 268 centros de distribuição, a Coca-Cola FEMSA está comprometida com a geração de valor econômico, social e ambiental para todos os stakeholders em sua cadeia de valor. A companhia é membro do Índice Dow Jones de Sustentabilidade MILA Pacific Alliance, do Índice FTSE4Good Emerging e do Índice S&P/BMV total México ESG, entre outros. Suas operações cobrem territórios no México, Brasil – onde já atua há 18 anos – Guatemala, Colômbia e Argentina e, em nível nacional, na Costa Rica, Nicarágua, Panamá, Uruguai e Venezuela, por meio do investimento na KOF Venezuela. Para mais informações, visite www.agenciasn-br.spinforma.net
Estima-se que uma em cada duas pessoas no mundo tenha atitudes discriminatórias que pioram a saúde física e mental de pessoas idosas e reduzem sua qualidade de vida.
A revelação da prevalência mundial desse intolerável preconceito contra idosos (denominado etarismo) está no mais recente relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre discriminação por idade, divulgado no último dia 18 de março pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras agências da ONU.
O documento faz um chamado urgente à ação para combater a discriminação por idade (também conhecida pelas expressões ageísmo e idadismo) bem como melhorar a mensuração e os relatórios para expô-la como ela realmente é: um flagelo insidioso na sociedade, conforme classificam os organizadores do estudo. Para a ONU, superar o problema é um desafio global.
A pesquisa desenvolvida com mais de 83 mil pessoas em 57 países apontou que uma em cada duas pessoas tinha atitudes moderadamente ou altamente discriminatórias relacionadas à idade.
“A discriminação por idade se infiltra em muitas instituições e setores da sociedade, incluindo aqueles que fornecem assistência médica e social, no local de trabalho, na mídia e no sistema jurídico.”
A discriminação ocorre quando a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas de maneiras que podem causar danos, desvantagens e injustiças. Pode assumir várias formas, incluindo atitudes preconceituosas, atos discriminatórios e políticas e práticas institucionais que perpetuam crenças estereotipadas.
O comportamento, enfatiza o estudo, contribui para a pobreza e a insegurança econômica das pessoas na velhice, aumentando o isolamento social e a solidão dos idosos.
O “Relatório Global sobre Preconceito de Idade” (ível aqui) apresenta uma estrutura de ação para reduzir esse tipo de discriminação, incluindo recomendações específicas para diferentes atores (por exemplo, governo, agências da ONU, organizações da sociedade civil, setor privado).
O levantamento reúne as melhores evidências disponíveis sobre a natureza e magnitude do preconceito etário, seus determinantes e seu impacto. Descreve ainda quais estratégias funcionam para prevenir e combater o preconceito de idade, identifica lacunas e propõe futuras linhas de pesquisa para melhorar a compreensão do preconceito por parte da sociedade.
Pandemia expôs estereótipos
A publicação observa que a resposta para controlar a pandemia de Covid-19 revelou o quão generalizada é a discriminação por idade – pessoas mais jovens e idosas foram estereotipadas no discurso público e nas redes sociais. Em alguns contextos, enfatiza o documento, a idade tem sido usada como o único critério para o a cuidados médicos, terapias que salvam vidas e para isolamento físico.
“Enquanto os países buscam se recuperar e se reconstruir da pandemia, não podemos permitir que estereótipos, preconceitos e discriminação baseados na idade limitem as oportunidades de garantir a saúde, o bem-estar e a dignidade das pessoas em todos os lugares”, declarou Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Este relatório descreve a natureza e a escala do problema, mas também oferece soluções na forma de intervenções baseadas em evidências para acabar com a discriminação por idade em todos os estágios.”
“A pandemia destacou as vulnerabilidades das pessoas idosas, especialmente daquelas mais vulneráveis, que muitas vezes enfrentam discriminação e barreiras sobrepostas – são pobres, vivem com deficiências, são mulheres que vivem sozinhas ou pertencem a grupos minoritários”, disse Natalia Kanem, diretor Executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). “Vamos fazer desta crise um ponto de virada na forma como vemos, tratamos e respondemos aos idosos, para que juntos possamos construir um mundo de saúde, bem-estar e dignidade para todas as idades que todos desejamos.”
Descobertas do relatório
A discriminação por idade se infiltra em muitas instituições e setores da sociedade, incluindo aqueles que fornecem assistência médica e social, no local de trabalho, na mídia e no sistema jurídico. O racionamento de saúde baseado apenas na idade é generalizado, aponta o documento.
Uma revisão sistemática nos dados sobre o tema em 2020 mostrou que em 85% de 149 estudos, a idade determinou quem recebeu certos procedimentos ou tratamentos médicos. Este tipo de discriminação tem consequências sérias e abrangentes para a saúde e o bem-estar das pessoas, salienta o relatório.
Entre as pessoas idosas, o envelhecimento está associado a uma pior saúde física e mental, maior isolamento social e solidão, maior insegurança financeira, diminuição da qualidade de vida e morte prematura.
Estima-se que 6,3 milhões de casos de depressão em todo o mundo sejam atribuíveis ao envelhecimento. Esse fenômeno acaba por exacerbar outras formas de discriminação e desvantagem, incluindo as relacionadas a sexo, raça e deficiências, levando a um impacto negativo na saúde e no bem-estar dos indivíduos.
O estudo lembra ainda que adultos com idade mais avançada também estão frequentemente em desvantagem em relação a oportunidades de trabalho e o o à formação e educação especializadas diminui significativamente com a idade.
Custos econômicos
Entre os dados disponíveis, cita que nos Estados Unidos da América, um estudo de 2020 mostrou que a discriminação – na forma de estereótipos negativos de idade e autopercepções – levou a custos anuais excessivos de 63 bilhões de dólares americanos para as oito condições de saúde mais custosas. Isso equivale a 1 em cada 7 dólares americanos gastos nessas condições para todos os americanos com mais de 60 anos durante um ano.
As estimativas na Austrália sugerem que, se 5% mais pessoas com 55 anos ou mais estivessem empregadas, haveria um impacto positivo de 48 bilhões de dólares australianos na economia nacional anualmente.
“A discriminação por idade prejudica a todos – idosos e jovens. Mas, muitas vezes, é tão difundida e aceita – em nossas atitudes, políticas, leis e instituições – que nem mesmo reconhecemos seu efeito prejudicial sobre nossa dignidade e direitos”, afirmou Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos. “Precisamos combater a discriminação por idade de frente, como uma violação profundamente enraizada dos direitos humanos”.
Estratégias para enfrentar o problema
O relatório observa que as políticas e leis que tratam do preconceito, atividades educacionais que aumentam a empatia e dissipam equívocos e atividades intergeracionais que reduzem o preconceito ajudam a diminuir a discriminação.
Todos os países e partes interessadas são encorajados pelo documento a usar estratégias baseadas em evidências, a melhorar a coleta de dados e pesquisas e a trabalhar juntos para construir um movimento que mude a forma como as pessoas pensam, sentem e agem em relação à idade e ao envelhecimento, e para avançar o progresso na Década do Envelhecimento Saudável das Nações Unidas. (Publicado originalmente no Portal Longevinews)
]]>Por Eduardo Gregori
O verão finalmente havia terminado no Hemisfério Norte, mas na Peninsula Ibérica o sol e o calor, mais brandos, ainda persistiam um pouco mais. Os besouros que Anes faziam das areias escaldantes da Costa de Caparica a sua morada, agora já não são vistos e nem mesmo os verdejantes arbustos estão mais em seu esplendor. Tudo sinaliza a chegada do outono e consequentemente o adeus à praia.
Mas antes do último ato, mais uma vez estendo minha toalha para espreitar o que se a no areal muito além de um simples relax e banho de mar. A esta altura do ano já não vejo mais os meus personagens retratados nos textos anteriores. Sinto dividir a praia praticamente com os surfistas.
Tese reforçada pelo confinamento motivado pelo Novo Coronavírus. Nos finais de semana, por exemplo, não é possível cruzar o Tejo, o que diminui ainda mais o público que frequenta a costa do outro lado da margem. Olho para um lado e para outro. Tiro o binóculos da mochila e nada, apenas pipas elevando os surfistas no ar e uns gatos pingados a caminhar pela praia. Dou um tempo e vou pro mar, ainda é possível entrar no gelado Atlantico Norte mas os nervos formigam um pouco, confesso. Volto pra areia, leio um pouco e ouço alguma mude na esperança que o cenário mude.
A tarde a e quando dou por mim o sol quase está a se por no horizonte, naquele lindo espetáculo que só há na Caparica. Fico frustrado pois nada demais se ou ali naquele dia. Pego o carro e vou pra casa.
Me pego irritado, inquieto e ansioso afinal, só no próximo verão poderei encontrar-me com estas pessoas que buscam, de alguma forma, tipos de prazer que vão além do sol, do calor e da praia. Fico matutando aquela sensação na cabeça por dias até finalmente entender que faço parte daquele cenário também.
Estou em busca de prazer, mas não um prazer sexual é um prazer quase voyeurístico, do observar o comportamento humano, principalmente aquele que se destaca por não se encaixar no padrão do que é esperado normalmente num ambiente como uma praia, por exemplo. Lembro-me que observo sempre a vizinha da frente, não querendo ve-la em trajes íntimos, mas tento entender porque ela a 365 dias por ano grudada na janela, ou o senhor que gasta o mesmo tempo na frente do prédio onde mora, parecendo observar o nada.
Agora é esperar o verão, que chega em três meses e ver se estes ou outros personagens vão surgir para satisfazer a minha curiosidade.
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]]>Por Eduardo Gregori, de Lisboa
Demorei mas aqui estou para a terceira parte da série Desejos de Verão. Era quase fim de verão e o sol já não tinha a mesma força, mas mesmo assim insisti em aproveitar cada momento fora de casa e longe da multidão.
Chego na Praia da Bela Vista como sempre e abro meu “chapéu de chuva” como dizem aqui e estendo minha toalha. A praia, que mesmo no verão tem pouca gente, parece quase um deserto nesta altura do ano, mas alguém ao longe me chama a atenção.
Uma senhora com seus bons 70 anos ou mais parece escondida entre as dunas e a vegetação. Ela segura um par de binóculos e parece compenetrada em sua missão de espreitar a vista. Imagino que ela esteja observando alguma espécie de pássaro porque na Costa de Caparica existem várias, ou então as pipas que elevam os surfistas acima das ondas e colorem os céus.
O dia a, ondas vão e vêm e quase no fim da tarde ela ainda está no mesmo posto, quase ainda na mesma posição. Aquilo me intriga. O que uma senhora daquela idade estaria fazendo ali por tanto tempo? Levanto acampamento e me dirijo ao meu carro e no caminho faço questão de ir me aproximando dela para ver o que se a.
Ela percebe a minha aproximação e se vira de costas para a praia. Ao ar por ela digo boa tarde, para ver se ela era portuguesa ou não. E me responde em português luso. Não resisto ao ímpeto de parar e tentar iniciar uma conversa para ver no que aquilo vai resultar.
Me apresento digo que adoro a praia e que sempre estou por lá. Ela responde dizendo que também aprecia a praia, mas que não tem mais idade para enfrentar as ondas fortes da Caparica e nem a água fria, mas sempre que pode, gosta de observar.
E lhe pergunto: O que a senhora observa? Ela respira por alguns instantes e eu espero que vá me dar uma má resposta. Então ela ergue a cabeça buscando meu rosto e me diz: “meu querido, eu tenho 79 anos e sou viúva há mais de 30. Gosto de ver os rapazes a correr para a água com seus corpos bem-feitos. Meu marido vinha aqui sempre para surfar e desde que ele morreu nunca tive mais ninguém. Tenho medo de esquecer como é o corpo de um homem e quando venho cá faz-me lembrar também do meu Manoel”.
Tenho pena pelo luto daquela senhora que dura já 3 anos, mas alegro-me que ela tenha encontrado uma maneira de lembrar de seu marido sem perder de vista e sem sentir culpa de observar corpos masculinos ao sol.
Digo isto a ela e lhe dou um conselho: “A senhora devia descer das dunas e caminhar pela praia. Quem sabe não encontra um novo amor?”. Ela sorri e responde: “obrigadinho, vou pensar nisto”.
Despeço-me enquanto ela vira novamente para a praia e levanta o binóculos. Entro no meu carro e vou embora. Quando voltei na semana seguinte não a vi mais nas dunas e torço para que ela tenha seguido o meu conselho.
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]]>Por Eduardo Gregori, de Lisboa
Portugal respirou aliviado às 20h do último domingo (24) com a esmagadora vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas eleições presidenciais de Portugal. Com mais de 60% de votos, o presidente reeleito ocupará o palácio de Belém por mais cinco anos. Não foi surpresa como já previam as sondagens e, principalmente porque o “Professor Marcelo” é uma quase unanimidade em Portugal. Professor, jornalista e figura que entrou durante anos nas casas portuguesas pela televisão, Rebelo de Sousa é carismático e não tem medo de testar sua popularidade ao dirigir o próprio carro pelas ruas de Lisboa, nadar nas praias de Cascais e, quando era possível, sair pela cidade sem negar um abraço, uma selfie e até mesmo um beijinho de suas iradoras.
As verdadeiras surpresas das Eleições Presidenciais em Portugal ficaram mesmo com o segundo e terceiro lugares. E não é possível deixar ar em branco que resultados bem distantes do vencedor (13% o segundo e 11,9% o terceiro) devam ser menosprezados. A começar pela candidata Ana Gomes. A eurodeputada e diplomata fez história como a mulher mais votada em eleições presidenciais portuguesas desde 25 de abril de 1974, quando foi reestabelecida a democracia no país.
Mas o segundo lugar de Ana Gomes vai além disso. É um alerta de que o empoderamento feminino vem ganhando força em um país ainda regido pelo patriarcado e pelo machismo. Dados da Organização Não Governamental (ONG) União de Mulheres Alternativa e Resposta (UNAR) mostram que entre janeiro e novembro de 2020, 16 mulheres foram vítimas de feminicídio dentro de suas próprias casas e outras 14 em outros contextos. Os dados mostram ainda que no mesmo período contabilizou-se 43 tentativas de assassinato de mulheres. O número pode parecer pequeno sob a ótica brasileira, mas é importante contextualizar que todo o território português tem pouco mais de 10 milhões de habitantes, 2 milhões de pessoas a menos que, por exemplo, a cidade de São Paulo que contabiliza 12,33 milhões de habitantes.
Ana Gomes conquistou ainda mais a empatia do eleitorado ao sair em defesa da candidata Marisa Matias, atacada por André Ventura, candidato do Chega, partido de extrema-direita. “Não quero dizer nada que me arrependa amanhã mas não está muito bem em termos de imagem, de performance. Assim com os lábios muito vermelhos como se fosse uma coisa de brincar”, disse Ventura sobre Marisa durante campanha na cidade de Portalegre.
No dia seguinte a hashtag #VermelhoemBelém alcançou o primeiro lugar nos trend topics do Twitter em Portugal. A caminho de um comício, Ana Gomes postou um vídeo ando batom vermelho e deixando claro seu apoio à Marisa. Homens e mulheres seguiram o exemplo nas redes sociais.
Os 11,9% de André Ventura podem parecer pouco mas foi histórico para um partido de extrema-direita que avança no pacífico Portugal. O candidato comemorou como vencedor na noite em que o resultado das eleições foi conhecido. E Ventura tem mesmo o que comemorar. Ele venceu no Alentejo, região até então reduto do Partido Comunista e sua votação nacional foi praticamente a soma de todos os outros candidatos (excluindo Ana Gomes) e muito acima do Bloco de Esquerda, união dos partidos à esquerda, que ficou apenas com 4% de Marisa. Ventura aproveitou para atacar a esquerda, ao dizer que a esmagou.
Ventura chamou sua votação de projeto para o futuro e acendeu uma luz de alerta para as próximas eleições, uma vez que não terá mais o Professor Marcelo como adversário. Controverso, o líder do Chega angariou eleitores ao defender o fim de subsídios do governo para a população de etnia cigana. Trouxe a Portugal como principal apoiante de sua campanha a deputada sa Marine Le Pen, conhecida por defender o nacionalismo e atacar imigrantes.
Suas aparições públicas foram marcadas por protestos da população cigana e de quem o acusa de xenofobia e racismo. Em um deles, na cidade de Setúbal, foi alvo de uma chuva de pedras e outros objetos. Ventura não pagou para ver e por onde quer que aparecesse publicamente munia-se de seguranças a protegê-lo.
Ventura não tem o cargo de presidente de Portugal, não agora, mas se levar adiante seu projeto e fizer como seu partido fez nos Açores ao se aliar com outros partidos para sentar-se à mesa que governa o arquipélago, será um forte candidato à levar até então o governo de direita moderada (chamada de social pelo Professor Marcelo) para o radicalismo. E pelo tudo indica, atenção dos portugueses ele tem conseguido atrair. Resta saber se Ana Gomes estará no páreo novamente e se estiver, será uma batalha digna dos Titãs.
Por Eduardo Gregori
Por Eduardo Gregori
Jornalista busca apoio para realizar cirurgia e dar um importante o em seu processo de transição de gênero.
Conheci Miguel há alguns anos na redação da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC). Repórter daquele tipo mãos para toda obra, que não se furta em sair em busca de uma boa notícia ou mesmo de cobrir uma trolha, jargão que os jornalistas usam para temas que geralmente são muito chatos e trabalhosos.
Naquela época, Miguel ainda não era Miguel, mas já estava em busca do seu verdadeiro eu. Busca esta que parece ter finalmente terminado, mas que é apenas a ponta de um iceberg no caminho para que possa se olhar no espelho e ver que a imagem refletida nele juntem corpo e mente.
Do alto de seus 29 anos, 10 deles dedicados ao jornalismo, Miguel Von Zuben promove uma “vaquinha” na internet para que possa dar mais um o na sua jornada de transição de gênero. Miguel explica nesta entrevista como foi seu processo de descoberta como um homem trans, além de analisar questões como família, trabalho e políticas públicas para a população trans.
Se quiser contribuir com a vaquinha do Miguel é só ar: www.vakinha.com.br/vaquinha/mamoplastia-do-miguel-miguel-von-zuben-dias
Como está a arrecadação da sua vaquinha?
Está incrível. Em menos de uma semana já arrecadei 70% do valor total que preciso! Os custos da cirurgia são bastante altos pro meu padrão financeiro e a vaquinha foi uma solução viável que me ou pela cabeça. Meus amigos e alguns parentes estão bem próximos do meu processo de transição e comecei a perceber a quantidade de mensagens e encontros positivos que tive desde o início. Isso me trouxe o pensamento de que eles poderiam me ajudar a realizar esse sonho e eu estava certo.
Quebrei várias barreiras com essa vaquinha e o medo da exposição foi um bom exemplo disso. Gravei um vídeo e dei uma causada no Instagram. Reuni o maior número de pessoas em um grupo, pedi: “galera, me ajudem a provocar um tsunami!”, e rolou! Esse vídeo de divulgação da vaquinha já teve mais de 11 mil visualizações no Insta. Teve gente do Brasil inteiro que me mandou mensagens de carinho e ajudou financeiramente. Sou muito grato por isso, me sinto amado e respeitado!
Em tempo de tantos haters, teve algum receio de fazê-la?
Não. Acho que o processo de transição tem me ajudado muito a me apropriar do meu corpo e das minhas verdades e isso acabou gerando uma imensa autoconfiança. Claro que uma pessoa trans sempre vai ser alvo de preconceitos e isso é muito ruim, mas não é tanto a ponto de me impedir de fazer algo que, na balança, é imensamente mais positivo pra mim. Além disso, sinto que meus amigos são grandes parceiros, e que se alguém falar alguma coisa pra eles, eles mesmos vão me defender. Isso não me isenta de sofrer preconceito, mas são aliados que cultivei ao longo do tempo.
Teve apoio de amigos e família?
Tive muito apoio dos amigos, eles se empenham em aprender mais sobre o assunto pra me deixarem confortável no convívio do dia-a-dia. Mas vou dizer que as pessoas que têm se feito mais presentes nesse processo são minha atual companheira, Luiza, e minha mãe. Elas são com certeza as pessoas mais importantes da minha vida. Quebraram barreiras gigantescas, trabalham constantemente uma desconstrução sobre o assunto e sobre si mesmas, e estão comigo de peito aberto encarando tudo. É amor que chama, né?
O que você pretende efetivamente fazer com o dinheiro que arrecadar?
Bom, a cirurgia já está marcada, mesmo que os 20 mil reais ainda não estejam 100% materializados. Mas eu sei que vão estar. Com esse dinheiro, pago toda a equipe médica, o hospital, os remédios e outras coisas que vou precisar usar no pós-operatório (como um colete que ajuda a proteger a cicatriz e melhora a circulação) e algumas viagens que vou fazer, porque o processo todo vai acontecer em São Paulo. Nada do que eu receber vai ficar sobrando, porque mesmo se vier um pouquinho a mais, ainda consigo usar pra pagar consultas médicas, terapia e até os hormônios de uso contínuo. É um grande investimento!
Você é jornalista e não vemos muita representatividade LGBTQI+ nas redações. Você pensou nisso quando decidiu avançar na sua transição?
Isso não tem relação com a tomada de decisão, mas de fato a nossa comunidade ainda é muito invisibilizada e deixada de lado em várias profissões e o jornalismo é um lugar ainda muito hostil pra gente. O que me deixa triste nisso tudo é que as redações não estão preparadas para receber profissionais como nós, muito menos pra falarem sobre essa pauta em suas publicações. Já vi muitas situações de desrespeito acontecerem porque o profissional não sabe lidar com o assunto, mas quer ou tem que falar dele mesmo assim.
Pessoas preconceituosas existem em todos os setores da sociedade. Você enfrentou ou acredita que vá enfrentar algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho?
Até agora eu não tive situações de preconceito no trabalho, mas existe um receio toda vez que encontro uma equipe nova pra trabalhar. Fica aquela situação: “Será que eu falo? Será que vão perceber sozinhos? Se eu disser, será que vão me tratar diferente?” isso é desconfortável, acho que nesse ponto ainda estou me apropriando desse espaço com o novo eu.
Como teus amigos e família receberam a notícia de sua transição?
Algumas pessoas ficaram meio: “Nossa, como é tudo isso?” A transexualidade começou a ser mais vista de uns tempos pra cá, mas ainda assim, muita gente nunca conviveu com uma pessoa trans. É muito louco isso, né? Mas meus amigos e minha família foram receptivos sim! Meus pais tiveram um pouco de dificuldade no começo porque isso envolve muita coisa para além de mudar nome e gênero – é como você ver a sua cria renascer, né? Acontece um processo de luto por aquela figura que não vai mais existir, para então vir a recepção pelo filho que tá ali, nascendo de novo.
As mulheres trans têm mais visibilidade do que os homens e logo uma maior aceitação por parte da sociedade. Por que você acha que isto ainda aconteça?
Historicamente, falando principalmente em conquistas de espaços e de direitos tanto da bandeira trans, quanto da bandeira LGBTQIA+, as mulheres trans e travestis sempre estiveram na linha de frente e foram pioneiras em muitos movimentos.
Mas falando de uma sociedade mais atual, no dia-a-dia do povo, eu vejo duas situações diferentes que me chamam atenção… a sociedade tem um hábito de validar a mulher trans/travesti quando ela está em uma posição de entreter, sabe? Então a gente vê elas cantoras, artistas, conquistando espaços lindos e gerando representatividade, mas quando a gente vê uma mulher trans/travesti advogada, contadora, professora, será que elas têm esse mesmo respeito e iração da sociedade?
Já no caso dos homens trans, acho que a gente tá começando a aparecer mais, mas parece que existe uma validação pelo fato de sermos homens, entende? Um homem trans consegue uma abilidade razoável só de ter barba na cara, então muitos de nós não somos nem vistos como transexuais – o que em alguns casos é até bom, seguro, mas em outros apaga a nossa bandeira. No fim das contas, acho que nosso caso figura um microcosmo da lógica de uma sociedade patriarcal.
Como foi na sua cabeça o descobrimento como uma pessoa trans?
Foi uma montanha-russa! Esse é um tema que me permeia desde o fim da faculdade, quando um grupo de amigas fez um TCC sobre transexualidade. Depois disso essa pauta vinha até mim o tempo todo. Em 2018, fiz um projeto fotográfico com um amigo em que registramos mulheres trans em situação de rua em Campinas. Dali pra frente o negócio deslanchou, em redações eu era sempre a pessoa que escrevia sobre o assunto, até que no 2º semestre de 2019 eu entrei em uma depressão muito complicada porque parecia que meu mundo ia desabar. Foi a época mais difícil da minha vida e ali eu precisei tomar essa decisão. Era meio que uma coisa: “Ou vai ou vai!”. E fui!
Você se sentiu mais completo como ser humano a partir do momento que entendeu sua identidade de gênero?
Hoje eu sinto que encaixei uma parte importante que estava escondida dentro de mim e isso faz de mim um ser humano completo. Hoje eu olho pro meu ado e sinto que a pessoa que estava ali antes foi importante pra formação do meu caráter e dos meus princípios, e ela penou muito para isso. Mas hoje, não tinha como ser diferente, eu não ia conseguir sustentar aquela máscara e aquela representação a vida inteira. Me machucava muito.
Para as mulheres trans a operação de redesignação é muito importante. Neste campo a medicina está muito avançada. E como é esta questão para os homens trans, o que é mais importante? E a medicina tem avançado para ajudar nestas questões?
Assim como as mulheres trans/travestis, os homens trans também têm suas questões com o corpo, ou podem não ter questão nenhuma. Não é porque sou trans que odeio meu corpo, sabe? Muita gente acha que é assim, e na verdade não é. Tem várias partes de mim que eu amo muito e não quero mexer, mas outras me deixam bastante desconfortável e afetam o psicológico – a gente chama isso de disforia de gênero.
Sei que o procedimento que eu vou fazer, chamado de mamoplastia masculinizadora, já é realizado por alguns profissionais especialistas aqui no Brasil. São poucos, mas existem. E vou fazer essa cirurgia exatamente porque o peitoral que eu tenho hoje não condiz com o que enxergo em mim. Fico triste quando vou pra praia, piscina, cachoeira, e tenho que usar camiseta para esconder o que está ali, é complicado. Me sinto preso, como se existisse um peso enorme sobre mim.
O que eu acho que o Estado precisa melhorar é a oferta de serviços voltados pra este público. São pouquíssimos os hospitais no Brasil que oferecem este tipo de cirurgia – e como ela é bem cara pra maioria das pessoas, muitos ficam dependentes do SUS e acabam tendo que esperar anos para conseguirem fazer a cirurgia.
Você pode se beneficiar de alguma política pública para avançar na sua transição? Se sim, quais?
Uma das conquistas que tivemos nos últimos anos e é absurdamente importante é uma lei que tornou o processo de retificação de nome e gênero bem mais fácil. Até 2018, pra mudar o nome e gênero nos documentos, tinha que ir na Justiça, entrar com advogado e botar um monte de dinheiro e tempo nisso. Hoje, você consegue retificar em qualquer cartório do país. E esse reconhecimento legal e oficial dá ainda mais potência pra você se sentir bem consigo mesmo. É uma validação importante, porque é muito complicado você apresentar um documento que não condiz com quem você é. Isso infelizmente dá abertura pra uma série de chacotas, preconceitos e/ou situações desagradáveis.
Como você se imagina daqui a 10 anos?
Me imagino morando em uma casa na praia cheia de bichos, com minha companheira, trabalhando com o que gosto, vivendo com menos dinheiro do que eu acho que preciso e viajando com frequência para lugares lindos e cheios de natureza. Só de pensar nisso o peito até respira mais aliviado!
Miguel quer casar, ter filhos?
Apesar de eu e Luiza não morarmos juntos, a gente se considera casados. Essa é uma coisa que sempre quis, ter alguém com essa parceria, carinho e respeito que temos um pelo outro. Eu particularmente quero ter um filho (ou uma filha), mas esse projeto é pra daqui alguns anos, hoje tenho outras coisas pra resolver antes de assumir essa grande responsabilidade.
O que você diria para pessoas que não entendem o que é ser uma pessoa trans.
Se você não entende o que é ser uma pessoa trans, tá tudo bem. Ninguém nasce sabendo! Isso só vai se tornar um problema se você quiser se manter nessa situação de não entendimento, porque a ignorância leva ao preconceito e ao desrespeito. Todo mundo é capaz de amar, de respeitar, de ver o outro como igual. Se você quer aprender, busque conviver com pessoas trans, isso vai trazer a compreensão de várias situações que amos e que muitos invalidam, acham ‘mimimi’. Nosso corpo é a representação de uma luta, de muitas batalhas. A gente já sofreu e muitos ainda sofrem muito. Pratiquem a empatia.
Por Eduardo Gregori
Por Eduardo Gregori
Mundo mágico de Carnival Row é apenas um disfarce para tocar em questões muito reais
Quando me deparei com o anúncio da série Carnival Row na tela de abertura do Prime Video achei que fosse mais um conto de fadas incrementado com ação policial. A sinopse fala de assassinatos na fictícia cidade de Burgo na era Vitoriana. O pano de fundo que conduz a trama é Carnival Row, bairro boêmio onde vive Vignette Stonemoss (Cara Delevingne), uma fada que após a morte de seu amado, o humano Rycroft Philostrate (Orlando Bloom), tenta recomeçar a vida ao fugir da guerra que fez sucumbir sua terra-natal.
Carnival Row estreou há pouco mais de um ano nos Estados Unidos e recebeu elogios da crítica e do público, tanto que a Amazon confirmou a continuidade da série. Antes mesmo que o espectador sinta-se preso pela trama, as locações enchem a vista. Rodada na cidade de Praga, capital da República Tcheca, a série remonta uma era de opulência social e de intrigas palacianas.
São oito episódios e nos dois primeiros imaginei que a trama ficaria apenas nos protagonistas e seria recheada com as investigações de Philostrate, um detetive da polícia, que precisa desvendar uma série de assassinatos misteriosos. Errei feio.
Carnival Row é um mundo mágico com fadas, faunos e humanos e no decorrer dos episódios se envereda por questões raciais o que enriquece o enredo e o traz para mais perto da realidade. Neste mundo mágico os humanos estão no topo da cadeia social, enquanto faunos são empregados e fadas são prostitutas. Fica claro que a ascensão social só é permitida para humanos, enquanto outras espécies têm de se contentar em ocupar os lugares designados a elas.
Tudo parece correr bem até a chegada Agreus (David Gyasi), um fauno milionário que compra uma mansão no bairro mais nobre de Burgo. Sua vizinha, Imogen Spurnrose (Tamzon Merchant) se apressa para fazer uma visita ao novo morador e ao se deparar com Agreus, pergunta-lhe onde está o dono da casa. Ele responde: “Eu sou o dono da casa”, para a incredulidade da donzela.
Falida pelos gastos do irmão Ezra (Andrew Gower), Imogen vê no fauno a chance de receber muito dinheiro introduzindo Agreus na alta sociedade de Burgo. A presença do fauno nos salões causa curiosidade, estranhamento e principalmente discriminação. Preconceito sentido também pelo próprio Philostrate ao finalmente descobrir seu ado depois de crescer em um orfanato abandonado pela mãe.
E quando eu achava que a trama já estava muito interessante com questões raciais, belas paisagens de Praga, assassinatos não resolvidos e a caça à uma criatura mítica, Carnival Row dá um o além ao introduzir xenofobia legitimada politicamente. Duas forças do parlamento de Burgo, outrora antagônicas, convertem-se em uma única voz humana contra fadas e faunos. A posse de um novo chanceler é construída em cima de um discurso de ódio contra as outras espécies, discurso ecoado e celebrado pela líder da oposição e por todo o parlamento.
Espalha-se o ódio pela cidade, leis são criadas para separar espécies e faunos e fadas são exilados em Carnival Row. Discriminação racial, xenofobia, polarização, ódio… uma história da era vitoriana mas com uma conexão direta com o que estamos vivendo em 2020. Agora é esperar pela segunda temporada para ver se a opressão seguirá no poder ou se Carnival Row virará a mesa.
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]]>Por Eduardo Gregori
O verão no hemisfério norte acabou. O sol, que antes baixava no horizonte às 10h da noite, agora vai embora no máximo às 7h. A temperatura está lentamente abaixando e até choveu. Entretanto, Lisboa, mesmo no meio de uma pandemia, ferveu em suas areias escaldantes de calor, sexo e hipocrisia. É neste contexto que Lisboices terá quatro contos: Desejos de Verão, que têm como pano de fundo a Praia da Bela Vista, na Costa de Caparica, onde locais, residentes e turistas vão para tomar sol, mas também para escaparem das amarras sociais que não os permitem realizar seus desejos carnais.
ei o verão na praia em busca de personagens. Eu já havia ouvido sobre este recanto dos desejos português mas acreditava ser mais mito que verdade e não descobri que é verdade mesmo? O meu primeiro personagem é um brasileiro, Jorge obviamente não é seu nome, mas vou chamá-lo assim. Ele está há 5 anos em Portugal. Encontro-o nas dunas da Praia da Bela Vista como um eremita errante, observando com olhos de água quem possa satisfazer-lhe.
Ele pensa que estou interessado, mas lhe conto meu propósito e ele diz que tem muita história para contar, só não quer mostrar o rosto. Sentamos no alto das dunas, longe do mar. As pipas do kite surfe colorem o céu em uma dia lindo.
Jorge chegou a Lisboa sozinho. Deixou a esposa e os dois filhos em Belo Horizonte. Alugou um quarto na Mouraria, região lisboeta tradicionalmente ocupada por imigrantes, principalmente muçulmanos vindos da África e do Oriente Médio. Conseguiu emprego em um café, mas com a chegada da pandemia perdeu o trabalho e teve que buscar uma alternativa.
Ainda ilegal, não pode tirar carteira de habilitação e nem comprar uma moto para fazer entregas de comidas, estas que se pedem por aplicativo. Decidiu comprar uma bicicleta e não se cansa de subir e descer as colinas de Lisboa entregando encomendas alheias.
Jorge me conta que casou a mando do pai, pessoa que ele diz ter o maior respeito do mundo. Jorge tem quase 60 anos e lembra que na sua época obediência aos pais era tudo na vida de uma criança. Ele me conta que sempre soube que não era o que ele chama de pessoa normal. Aprendeu a gostar de Maria do Socorro, sua esposa, mas quando olhava para outros homens sentia uma estranha vontade de estar com eles.
Sua vida no Brasil não era de todo ruim. Era corretor de seguros e ganhava o suficiente para sustentar a família, mas não sentia sua vida completa, queria experimentar aquilo que não lhe saía da cabeça. Jorge me conta que tinha medo que, se realizasse seu desejo em sua cidade, talvez pudesse ser descoberto, e se gostasse e quisesse viver um romance, como seria? Medo e tesão povoavam sua cabeça noite e dia.
Jorge me diz que sua relação com Maria do Socorro é boa. Na cama, revela que o sexo era bom apesar de parecer mais como cumprir os deveres de marido. Uma noite pôs-se a pensar como escapar daquela vida sem magoar ninguém, nem a sua esposa, filhos e nem a ele mesmo.
No dia seguinte, em sua timeline de uma rede social a propaganda de um voo para Lisboa fez acender uma luz. “Vi aquilo como um aviso. E se eu fosse morar fora? Eu poderia fazer mais dinheiro e mandar pra casa, estaria longe e poderia experimentar essa minha vontade”, conta.
E Jorge foi masturbando esta ideia na cabeça até que decidiu ir. Conversou com a esposa que, apesar da tristeza de ficar longe do marido, acreditou que seria melhor para os filhos, pois teriam a oportunidade de oferecer-lhes uma vida menos regrada financeiramente.
Jorge chegou a Lisboa no início do ano e foi nos bares do Bairro Alto que conheceu muita gente e de todo lugar. Nuno, um rapaz que havia conhecido em uma noite no Bar 3, no Príncipe Real, o convidou para uma praia na Costa da Caparica. Nuno explicou que o lugar era para quem queria ficar ao sol ou perder-se no mato com outros homens.
Jorge me diz que não dormiu naquela noite de tanta ansiedade. Quando chegaram a praia, não quis saber muito do mar. Embrenhou-se na mata e lá encontrou homens de todas as idades e de todos os lugares. Todos com apenas um propósito: entregar-se ao prazer.
E foi naquele dia que Jorge provou de muitas bocas, de muitos homens e no fim soube que era aquilo que lhe faltava na vida. E todo verão Jorge faz o seu ritual de ir à praia não para banhar-se no mar, mas para realizar seus desejos. Ele me diz que tem enviado dinheiro para o Brasil, tem saudade mas não quer voltar já e nem pensa em trazer a família.
Não lamenta não ter encontrado alguém do mesmo sexo para mar. “Acho que amo mesmo a minha mulher. Aqui venho mesmo é para me divertir”, define. Ele levanta do meu lado, olha para o horizonte e diz que o sol já está caindo e que ainda não se satisfez por completo.
Agradeço o tempo que teve comigo e nos despedimos. Ele desce as dunas em direção à mata e desaparece. Fico imaginando onde Jorge estará e com quem estará realizando os seus desejos que não pode realizar no Brasil.
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