Agência Social de Notícias 4n4v4 Ecodesenvolvimento Notícias Wed, 11 Jun 2025 09:55:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.1.41 Niède Guidon 432g24 A Guardiã da Pré-História Brasileira /arquivos/20901 /arquivos/20901#comments Tue, 10 Jun 2025 11:03:38 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Cultura Viva]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20901 <![CDATA[Regina Márcia Moura Tavares Com profundo pesar, recebi ontem, 4 de junho de 2025, a notícia da morte de Niéde Guidon, arqueóloga que mudou para sempre a história da ciência brasileira. Para mim, sua perda é também pessoal. Fui sua estagiária no Museu Paulista em 1963, onde tive o privilégio de aprender com sua generosidade ...]]> <![CDATA[

Regina Márcia Moura Tavares 523h

Com profundo pesar, recebi ontem, 4 de junho de 2025, a notícia da morte de Niéde Guidon, arqueóloga que mudou para sempre a história da ciência brasileira. Para mim, sua perda é também pessoal. Fui sua estagiária no Museu Paulista em 1963, onde tive o privilégio de aprender com sua generosidade intelectual e rigor científico. Anos depois, reencontrei-a no Musée de l’Homme, em Paris, onde pude testemunhar a continuidade de sua trajetória brilhante. Mais recentemente, viajei até São Raimundo Nonato, no Piauí, para ver de perto os frutos de sua luta em defesa do patrimônio arqueológico do Brasil. Tive a honra de manter com Niède uma relação de amizade e profunda iração, que carrego com gratidão.

Em meio às paisagens áridas e escarpadas do sertão piauiense, Niède fez história ao revelar ao mundo que o ado das Américas poderia ser muito mais antigo do que supunha a arqueologia tradicional. Formada em História Natural pela Universidade de São Paulo nos anos 1950, iniciou sua trajetória profissional como professora de biologia em cidades do interior paulista. Ali enfrentou os desafios de um meio conservador, em que o ensino científico era pouco valorizado. Sua inquietação intelectual a levou à Europa, onde se doutorou em arqueologia na Sorbonne.

Antes disso, no Museu Paulista, trabalhou ao lado de nomes como Herbert Baldus e Wilma Chiara, adquirindo sólida formação em pesquisa arqueológica e etnográfica. Foi um período decisivo para sua futura atuação.

Niède Guidon - Parque Nacional da Serra da Capivara - foto FUNDHAM

Niède Guidon – Parque Nacional da Serra da Capivara – foto FUNDHAM

Em 1970, um convite do então prefeito de Petrolina, Carlos Wilson Campos, levou-a a conhecer a Serra da Capivara, no sul do Piauí. Chegando a São Raimundo Nonato, Niède deparou-se com um verdadeiro santuário pré-histórico: formações rochosas esculpidas pelo tempo e abrigos naturais que preservavam milhares de pinturas rupestres, além de vestígios materiais da ocupação humana antiga.

Reconhecendo de imediato o valor daquele patrimônio, Niède articulou a criação da Missão Arqueológica Franco-Brasileira, com apoio do governo francês e do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) — o principal organismo público de pesquisa da França, reconhecido mundialmente por seu e à ciência de excelência em diversas áreas do conhecimento. Foi com esse respaldo que se iniciaram escavações sistemáticas, cujos resultados desafiaram paradigmas estabelecidos.

As escavações revelaram datações surpreendentes, indicando a presença humana na região há mais de 30 mil anos, talvez até 50 mil — um dado que abalava a tese tradicional do povoamento das Américas via Estreito de Bering há apenas 13 mil anos. Com mais de 1.200 sítios arqueológicos documentados e cerca de 30 mil pinturas rupestres, a Serra da Capivara tornou-se um dos maiores patrimônios pré-históricos do mundo.

Pintura rupestre, Parque Nacional da Serra da Capivara - Foto Janine Moraes-MinC

Pintura rupestre, Parque Nacional da Serra da Capivara – Foto Janine Moraes-MinC

Em 1991, após anos de esforço político e científico, foi criado o Parque Nacional da Serra da Capivara, que se tornaria Patrimônio Mundial da UNESCO. Niède não parou aí: investiu na formação de comunidades locais, na criação do Museu do Homem Americano e no incentivo ao turismo cultural como estratégia de desenvolvimento regional sustentável.

Incansável, mesmo diante de obstáculos burocráticos e financeiros, Niède jamais recuou. Sua vida é testemunho de paixão pela ciência, compromisso com a verdade e dedicação à memória dos povos antigos que habitaram nosso território.

Hoje, ao nos despedirmos dessa grande mulher, fica o legado de sua coragem e de sua visão. A arqueologia brasileira perde uma de suas figuras mais luminosas. Que seu exemplo continue a inspirar novas gerações de pesquisadoras e pesquisadores

Regina Márcia M. Tavares_500x

Regina Márcia é antropóloga, especialista em Preservação do Patrimônio Cultural, escritora, conferencista, membro da ACL, do IHGGC e demais entidades culturais.

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Dia do Meio Ambiente amargo em 2025 44346s /arquivos/20882 /arquivos/20882#comments Wed, 04 Jun 2025 21:52:58 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20882 <![CDATA[Por  José Pedro  S.Martins, 4 de junho de 2025 O Dia Mundial do Meio Ambiente, lembrado a 5 de junho, é sempre uma oportunidade importante para apresentar boas práticas socioambientais e de saudar nomes que fazem muito pela causa. Em 2025, entretanto, a data tem um gosto amargo. A poucos meses da COP-30, a COP ...]]> <![CDATA[

Por  José Pedro  S.Martins, 4 de junho de 2025

O Dia Mundial do Meio Ambiente, lembrado a 5 de junho, é sempre uma oportunidade importante para apresentar boas práticas socioambientais e de saudar nomes que fazem muito pela causa. Em 2025, entretanto, a data tem um gosto amargo. A poucos meses da COP-30, a COP da Amazônia, o Brasil tem muito a se lamentar pelo que ocorre nas altas esferas do poder. Aproveitando um momento de fragilidade do governo federal e de uma conjuntura em geral desfavorável em termos culturais e políticos, no país e no mundo, setores poderosos têm avançado em desmontar a estrutura de proteção socioambiental brasileira, em termos legais e istrativos.

   Há poucos dias o Senado aprovou o Projeto de Lei nº 2.159/2021, que dispõe sobre licenciamento ambiental. O substitutivo aprovado, como já comentado nesta coluna, representa um dos maiores retrocessos na história da legislação ambiental desse país. Um verdadeiro desastre, porque abriu as portas para vários empreendimentos que podem ser nefastos para o meio ambiente.

     Eu tive a oportunidade de conviver em Piracicaba na década de 1980 com o maior jurista ambiental brasileiro, Paulo Affonso Leme Machado, um dos meus mentores. Ele estava preparando a primeira edição do seu “Direito Ambiental Brasileiro”, agora em trigésima primeira edição. Imagino o desgosto do jurista com os retrocessos que, esperemos, sejam derrubados pela Câmara, o que não deve ocorrer, ou sejam vetados pelo presidente Lula, a ver.

      A ver, porque o governo federal a por uma lamentável dicotomia. Enquanto o setor liderado pela ministra Marina Silva continua firme, na defesa dos postulados socioambientais básicos, por outro, o segmento afinado com grupos empresariais atrasados também prossegue firme, na sua tentativa, por exemplo,  de garantir a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. 

     A pressão parece que tem dado certo e o Ibama aprovou, também há poucos dias, decisão que pode levar à pesquisa e posterior exploração do petróleo naquela área sensível. No próximo dia 17 de junho,  haverá um leilão de  47 blocos naquela bacia sedimentar, promovido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e outras organizações tentam impedir o leilão.

    E o rolo compressor prossegue.  Na última semana, o Senado aprovou um projeto que desmonta o atual modelo de demarcação de Terras Indígenas (TIs) e suspendeu a demarcação de duas TIs em Santa Catarina, “em ato inconstitucional inédito”, segundo o Observatório do Clima. “O Congresso não vai parar”, lamenta o Observatório, a mais importante rede de organizações da sociedade civil sobre as mudanças climáticas no  Brasil.

      Pois foi também no Senado uma das cenas mais lamentáveis dos últimos tempos em termos de misoginia socioambiental. Participando no dia 27 de maio de audiência na Comissão de  Infraestrutura, a ministra Marina Silva, liderança internacional inconteste na área, foi atacada por dois senadores. A ministra se retirou da audiência e na saída do Senado criticou a aprovação do Projeto de Lei nº 2.159/2021.

      Com todos esses fatos, aumenta a expectativa de como o Brasil será oficialmente representado na COP-30, em novembro, em Belém. Se vai manter uma postura digna de liderança na luta contra as mudanças climáticas e na proteção da biodiversidade, ou se continuará  fazendo acenos aos combustíveis fósseis e ao negacionismo científico.

      Um teste de como será a posição oficial do Brasil na COP-30 acontecerá  por  ocasião da 3ª Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, que será realizada de 9 a 13 de junho, em Nice, França.  O evento reunirá milhares de participantes do mundo todo para discutir temas cruciais como saúde dos oceanos, financiamento, proteção marinha e desenvolvimento sustentável. Coorganizada por Costa Rica e França, a conferência “acontece em um momento estratégico para a ação climática, com atenção crescente aos impactos das mudanças climáticas nos ecossistemas marinhos e nas comunidades costeiras”, alerta o Observatório do Clima.

       Em 2024, uma decisão histórica do Tribunal Internacional do Direito do Mar (ITLOS) estabeleceu que os gases de efeito estufa — responsáveis pelas mudanças climáticas — devem ser considerados uma forma de poluição marinha. “Isso significa que todos os países signatários da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS) têm a obrigação legal de agir para prevenir, reduzir e controlar esse tipo de poluição, com o objetivo de proteger os oceanos”, destaca o Observatório do Clima. “Paradoxalmente, no mesmo ano, houve uma expansão das infraestruturas de exploração de combustíveis fósseis em alto-mar, agravando ainda mais os riscos aos ecossistemas marinhos”, completa o Observatório.

       De fato, a maioria dos novos projetos de extração e exploração de petróleo registrados em  2024 aconteceu no mar. Ao menos 8 bilhões de barris de óleo equivalente (bboe) de recursos foram anunciados em novas descobertas offshore no ano ado, quase 4 bboe de reservas foram sancionadas para desenvolvimento offshore e cerca de 6,5 bboe começaram a ser explorados com o início da operação de projetos offshore. 

    Das novas descobertas, 85%, em volume,  estavam localizadas em dez campos offshore. Enfim, a exploração petrolífera no mar vem se acelerando, na contramão da demanda  planetária justamente pelo  contrário,  enquanto os oceanos perdem rapidamente a capacidade de retenção de dióxido de carbono, contribuindo para incrementar ainda mais as mudanças climáticas.

      Durante a Conferência em Nice, ocorrerá um encontro entre os presidentes do Brasil e França, Lula e Emmanuel Macron. Em reunião no ano ado, os dois líderes se comprometeram a lutar juntos pela proteção dos oceanos. Os dois reafirmaram a consciência da relevância dos oceanos como  eixo estratégico para as políticas  climáticas  e  da biodiversidade. Mas o que Lula dirá dos esforços de um setor do governo em explorar petróleo na foz do Amazonas, a poucos meses da COP da Amazônia? 

        Enfim, o que resta é a mobilização planetária, como ocorreu no último domingo, com manifestações em várias cidades brasileiras contra a aprovação do Projeto de Lei nº 2.159/2021.  Antes, no sábado, por ocasião da partida entre as seleções de futebol femininas do Brasil e Japão, um gesto realmente digno, que mostra o país que muitos querem ver. Pouco antes de começar o jogo que fez parte das celebrações oficiais pelos 130 anos de imigração  japonesa no  Brasil, a ministra Marina Silva foi calorosamente aplaudida pelos 30 mil presentes. Ainda dá para acreditar, mas é preciso lutar, e muito.

(Publicado originalmente no Hora Campina, coluna Hora da Sustentabilidade.)

 

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Conferência Nacional do Meio Ambiente reiterou desafios 2h4f4i /arquivos/20817 /arquivos/20817#comments Thu, 15 May 2025 20:46:12 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20817 <![CDATA[Por José Pedro Soares Martins Depois de 12 anos da última edição, ocorrida em 2013, foi realizada entre 6 e 9 de maio, em Brasília, a V Conferência Nacional do Meio Ambiente, com o tema “Emergência Climática e o Desafio da Transição Ecológica”. A etapa nacional foi precedida de 439 conferências municipais, 179 intermunicipais e ...]]> <![CDATA[

Por José Pedro Soares Martins

Depois de 12 anos da última edição, ocorrida em 2013, foi realizada entre 6 e 9 de maio, em Brasília, a V Conferência Nacional do Meio Ambiente, com o tema “Emergência Climática e o Desafio da Transição Ecológica”. A etapa nacional foi precedida de 439 conferências municipais, 179 intermunicipais e 287 conferências livres, além das etapas estaduais, onde foram indicados os delegados ao encontro final.

         Muita gente, portanto, esteve envolvida no processo da V Conferência Nacional do Meio Ambiente, o que em si é salutar pelo seu aspecto pedagógico. As estimativas são de 65 mil pessoas  envolvidas nos diversos momentos. O tema central, que não poderia ser outro que o da emergência climática global, foi então discutido por muita gente e para muitos apresentado provavelmente pela primeira vez.

         O processo foi organizado em cinco eixos, sempre considerando o tema central:  Mitigação, Adaptação e Preparação para Desastres, Justiça Climática, Transformação Ecológica e Governança e Educação Ambiental. 

       Ao longo do processo, foram produzidas 2.635 propostas,  fruto das discussões realizadas em torno do tema principal e dos cinco eixos. Houve então importante preparação, até a etapa final na capital federal.

         Na V Conferência, foram aprovadas 104 propostas, reunidas em um documento encaminhado ao governo federal. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, participou da plenária final e recebeu o documento.

          Tudo muito louvável e necessário, pois marcou a retomada, no âmbito do meio ambiente, da discussão democrática sobre muitos temas relevantes para o país, inclusive este, nos governos de Michel Temer e principalmente no de Jair Bolsonaro, quando foram extintos os Conselhos participativos que tinham sido legitimamente  eleitos anteriormente.

           Entre as propostas aprovadas, muitas avançadas, como a da garantia de destinação de no mínimo 5% do orçamento dos entes da Federação (União, Estados e Municípios), em face da emergência climática, para implementação da Política Nacional do Meio Ambiente, com ênfase nas ações de gestão, fiscalização, restauração florestal e educação ambiental e climática. 

     Uma meta muito ousada, considerando que os orçamentos dos governos nunca foram generosos com a questão socioambiental. Por exemplo, como citado recentemente nesta Hora da Sustentabilidade, um recente estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) mostrou que somente 0,16% da renda do petróleo no Brasil, que foi de R$ 137,9 bilhões em 2024, foi direcionada à agenda ambiental e climática. 

      Outras propostas aprovadas incluíram a regularização fundiária, o incentivo à agricultura regenerativa, o fomento às cooperativas de reciclagem, o fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas, a ampliação de áreas verdes no planejamento urbano com espécies nativas adequadas. Muitas propostas, portanto, reiterando demandas que já vêm sendo levantadas há anos por cientistas e ambientalistas.

        A sensação que fica é que, apesar da elogiável retomada do processo da Conferência Nacional do Meio Ambiente e do grande empenho e compromisso dos organizadores e participantes, a questão socioambiental, que inclui temas dramáticos e urgentes como a emergência climática, continua limitada no Brasil aos círculos diretamente envolvidos. 

    Sim, pesquisas indicam que os brasileiros em sua maioria estão cientes dos riscos dos eventos climáticos extremos e apoiam medidas efetivas para seu enfrentamento, como também já salientado neste espaço do Hora Campinas. Contudo, a temática socioambiental de modo geral ainda não parece ser uma prioridade absoluta para grande parte da sociedade civil e população em geral, com justiça preocupada com o seu ganha pão cada vez mais caro na padaria.

        Mas é fundamental que seja ampliada a consciência de que, sem o equacionamento dos graves desafios socioambientais em curso, as mudanças climáticas entre eles, o pão ficará cada vez mais caro. Os recursos naturais do planeta estão sendo esgotados em velocidade alarmante, a rápida extinção da biodiversidade ameaça as teias de vida construídas na Terra ao longo de bilhões de anos.

        Nesse sentido, tornaram-se ainda mais relevantes as propostas aprovadas na V Conferência Nacional do Meio Ambiente relacionadas à educação socioambiental. Apenas com estratégias corajosas, intersetoriais e com os necessários recursos para promover uma ampla e abrangente educação socioambiental a nossa sociedade estará mais capacitada para enfrentar os complexos dilemas atuais e que tendem se agravar rapidamente.

         Na V Conferência, a respeito, foram aprovadas propostas como a instituição de um “sistema nacional de financiamento permanente para educação ambiental destinado às organizações da sociedade civil e órgãos públicos, para projetos comunitários e educacionais, priorizando as ações alinhadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável e ações de adaptação climática, assegurando a participação social na gestão”.

      Outra proposta nessa linha foi a de implementação e fortalecimento da educação ambiental “de forma obrigatória em todos os níveis de ensino e espaços educativos formais e não formais, com transversalidade e abordagem prática, participação popular, recursos adequados, formação continuada de profissionais, valorização de saberes ancestrais e planos, programas e projetos de educação  ambiental nos municípios, alinhados com a Plano Nacional de Educação Ambiental e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), criando mecanismos de controle”.

        Uma oportunidade importante para o fortalecimento da educação socioambiental no Brasil está no momento de debate e aprovação do novo Plano Nacional de Educação (PNE), que está em fase avançada de discussão no Congresso Nacional e conterá as diretrizes educacionais do país até 2034. É muito importante que a sociedade acompanhe a formulação do novo PNE, para que ele contemple com clareza e firmeza a urgência de uma ampla, transversal, democrática e plural educação socioambiental no Brasil. Apenas  com essa base é possível garantir o que se sonha hoje em termos de sustentabilidade, em todas as suas faces. (Artigo publicado originalmente no portal Hora Campinas dia 13 de maio de 2025)

 

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Apagão na Europa 2j24r negacionismo nos EUA /arquivos/20809 /arquivos/20809#comments Fri, 02 May 2025 22:32:13 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20809 <![CDATA[Por José  Pedro Martins Quando escrevo este artigo, ainda não tinham sido esclarecidas as causas exatas do apagão de energia que afetou a Península Ibérica na segunda-feira, 28 de abril, com reflexos também no Sul da França e outras regiões da Europa. De qualquer modo, um apagão que paralisou transporte público e comunicações em geral, ...]]> <![CDATA[

Por José  Pedro Martins

Quando escrevo este artigo, ainda não tinham sido esclarecidas as causas exatas do apagão de energia que afetou a Península Ibérica na segunda-feira, 28 de abril, com reflexos também no Sul da França e outras regiões da Europa. De qualquer modo, um apagão que paralisou transporte público e comunicações em geral, em cidades cosmopolitas como Madri, Barcelona, Porto e Lisboa, foi um claro aviso de como sistemas de alta intensidade tecnológica e energética não estão livres de interrupções com impactos em milhões de pessoas em plena terceira década do século 21. 

         Ataques cibernéticos e fenômenos atmosféricos foram inicialmente descartados pelas autoridades espanholas e portuguesas, mas de fato pouco se sabia um dia depois do apagão que atingiu milhões de surpresa na metade do dia. Eram 12h30 em Madri e 11h30 em Lisboa quando foi registrado o auge do fenômeno. Nesse horário, e mais precisamente às 12h32 da capital espanhola, 15 gigawatts de potência, equivalentes a 60% do consumo naquele momento na Espanha, simplesmente “sumiram”. Telecomunicações, incluindo as redes de celulares e internet, foram imediatamente afetadas. O trânsito virou um caos, cirurgias tiveram que ser postergadas, impactos em todo o cotidiano dos cidadãos que nunca imaginaram cenas semelhantes.

        Ficou evidente que os modernos sistemas energéticos, mesmo em países de alto grau de desenvolvimento, não são invulneráveis. O que diz muito sobre a necessidade de aumento do grau de segurança dos sistemas, em um momento crítico no planeta, em que é igualmente urgente a transição energética, do alto uso de combustíveis fósseis para fontes de fato renováveis de energia, como a solar, a eólica e os biocombustíveis. 

       Grupos ultraconservadores, inclusive, logo aram a culpar as fontes renováveis como causa central do apagão na Espanha, o que já foi contestado pelo presidente do governo, Pedro Sánchez. Mas é claro que o episódio será utilizado pelos defensores dos fósseis para atacar o avanço inexorável e urgente do uso de renováveis, como reflexo do negacionismo científico que tem crescido e, agora, com o forte apoio do poderoso governo dos Estados Unidos.

        Pois, se houve um apagão de energia na Península Ibérica, tem ocorrido um apagão científico e em particular na área ambiental norteamericana, desde a posse de Donald Trump em seu segundo mandato na Casa Branca, há 101 dias. Com a força de um furacão, Trump tem provocado um desmantelamento de grande parte da estrutura de proteção ambiental nos Estados Unidos, e em particular nos setores que atuam no enfrentamento das mudanças climáticas provocadas pelo uso intensivo de fósseis.

         Pelo contrário, Trump tem estimulado o uso de fósseis. Sob o guarda-chuva da ordem nacional de emergência energética, determinada pelo presidente, o Corpo de Engenheiros do Exército, por exemplo, acelerou a revisão da licença para quilômetros de extensão de um oleoduto e gás projetado para perfurar zonas úmidas protegidas na fronteira com o Canadá, como denunciou o premiado Inside Climate News.

          Na mesma linha, no último dia 8 de abril, Trump assinou uma Ordem Executiva intitulada, de forma singela, de “Revigorando a bela indústria de carvão limpo da América”. O carvão, como se sabe, foi o primeiro combustível fóssil usado em larga escala, contribuindo para deflagrar o processo que levou ao agravamento das mudanças climáticas, de impactos cada vez mais extremos.

        “Para garantir a prosperidade econômica e a segurança nacional dos Estados Unidos, reduzir o custo de vida e aumentar a demanda elétrica de tecnologias emergentes, devemos aumentar a produção doméstica de energia, incluindo carvão”, afirma o presidente logo no início da Ordem Executiva, uma das tantas medidas que já assinou, de efeitos incomensuráveis em termos de um retrocesso histórico para a emergência de novas fontes de energia.

       Trump também assinou uma proclamação atenuando de forma considerável os limites de poluição emitida pelas usinas movidas a carvão. Com isso, mais de 60 usinas a carvão ficaram isentas de limites federais de emissão de mercúrio. Os padrões de controle de mercúrio e outros poluentes ficariam mais rigorosos a partir de 2027, conforme regulamentação anterior, mas com a ordem do presidente o prazo foi estendido por mais dois anos, sob forte protesto de ambientalistas e cientistas.

       São várias as medidas tomadas por Trump no mesmo sentido. Uma das mais impactantes foi o anúncio do Departamento de Estado de que fechará seu escritório que faz a gestão da política climática internacional dos EUA. É um resultado lógico do anúncio feito diversas vezes por Trump que retiraria os Estados Unidos do Acordo de Paris.

       Em síntese, o que já foi visto até agora na área ambiental nos Estados Unidos, e sobretudo em termos das questões climáticas, é o prenúncio de um recuo monumental no que já foi feito no país que já liderou as emissões de gases de efeito-estufa e hoje é o segundo no ranking, atrás da China. É sem dúvida mais pressão para a COP-30, a Conferência do Clima que será realizada em novembro em Belém. 

         Como se não bastassem as pressões internas, para que o governo brasileiro avance mais em transição energética do que já foi feito até agora. Um recente estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) mostrou que somente 0,16% da renda do petróleo, que foi de R$ 137,9 bilhões em 2024, foi direcionada à agenda ambiental e climática. “Isso em um contexto de acirramento dos extremos climáticos e ausência de soluções de financiamento público doméstico e no âmbito da política climática global”, comenta o estudo do Inesc, que comprova portanto que, ao contrário do que dizem setores do governo federal, o dinheiro do petróleo não vem sendo utilizado na transição energética. 

        A COP-30 pode ser um marco histórico. Mas, diante do atual cenário global e nacional, de apagões na energia, negacionismo climático e fortes interesses dos combustíveis fósseis em jogo, serão necessárias ações muito corajosas para que a Conferência seja um êxito e não mais um grande fracasso como as anteriores. 

(Publicado originalmente  no portal Hora  Campinas, no  dia 30 de abril de 2025.)

 

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Campinas apresenta microflorestas para reduzir desigualdades históricas no mapa das áreas verdes 5l5l2l /arquivos/20777 /arquivos/20777#comments Fri, 28 Mar 2025 20:20:10 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Cidadania]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> <![CDATA[Uncategorized]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20777 <![CDATA[Por José Pedro Soares Martins Desigualdades históricas, na distribuição de áreas verdes em Campinas, podem começar a ser reduzidas com a implantação do projeto de implantação de microflorestas urbanas, apresentado na quarta-feira, 26 de março, pelo prefeito Dario Saadi. A Prefeitura planeja implantar 200 fragmentos de microflorestas, de 200 a 1000 metros quadrados, como parte ...]]> <![CDATA[

Por José Pedro Soares Martins

Desigualdades históricas, na distribuição de áreas verdes em Campinas, podem começar a ser reduzidas com a implantação do projeto de implantação de microflorestas urbanas, apresentado na quarta-feira, 26 de março, pelo prefeito Dario Saadi. A Prefeitura planeja implantar 200 fragmentos de microflorestas, de 200 a 1000 metros quadrados, como parte de um elenco de ações de enfrentamento das mudanças climáticas. O projeto encaminhado à Câmara Municipal também contempla a possível adoção de microflorestas pela iniciativa privada, assim como já acontece com as praças.

Em seus 250 anos de história, Campinas tem enfrentado muitos desafios relacionados à vegetação, que originalmente era de Mata Atlântica. O primeiro nome da cidade, Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso, deve-se justamente à floresta de domínio Atlântico que cobria toda a região. Hoje a Mata Atlântica, como bioma, está reduzida a menos de 10% do que era, mas em Campinas e região esse índice é de cerca de 5%. A destruição da vegetação nativa foi, portanto, muito maior na região.

A percepção de que há algo muito errado, de que a destruição da vegetação causa muitos problemas, para o próprio ser humano e a vida em geral, não é recente em Campinas. O primeiro número da Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes, de 1902, foi sobre a “Devastação das matas”. O artigo citava os impactos do café e das ferrovias nas florestas de São Paulo. As denúncias foram feitas por João Pedro Cardoso, ligado ao Instituto Agronômico e inspetor do 2º Distrito Agronômico de Campinas, membro da primeira Comissão de Agricultura e Zootecnia do CCLA.

Artigo no primeiro número da Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes, de 1902

Artigo no primeiro número da Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes, de 1902

Ao longo do século 20, vários moradores ilustres de Campinas se dedicaram a repovoar a vegetação nos espaços urbano rural. Hermes de Souza, funcionário do Instituto Agronômico, plantou uma floresta na Fazenda Santa Elisa. Hermes plantava árvores em vários locais, por exemplo nas vizinhanças de sua residência, como na área das praças Ralph Stettinger e Augusto Cesar, na avenida José de Sousa Campos (Norte-Sul), onde hoje existe um mini-bosque.

Wolfgang Schmidt promoveu grandes plantios em  Joaquim Egídio, e por isso ganhou o Prêmio  Global 500 da ONU. Hermógenes de Freitas Leitão, professor da Unicamp, também se dedicava à proteção da biodiversidade e hoje dá nome ao Parque Ecológico ao lado do campus dessa Universidade. Quando a avenida Aquidabã estava sendo aberta, um forte movimento popular impediu que uma parte do Bosque dos Jequitibás tivesse sido derrubada. O Bosque é uma das últimas áreas remanescentes de Mata Atlântica no espaço urbano.

O certo é que, apesar dos múltiplos esforços individuais, resta pouco da vegetação nativa original no município. A Mata de Santa Genebra, doada ao município pela família que era proprietária, com a condição de sua proteção, é a área remanescente de Mata Atlântica  mais conservada, tendo inclusive a Fundação José Pedro de Oliveira para esta função. E as matas dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio fazem parte da Área de Proteção de Ambiental (APA) daquela região.

No espaço urbano, entretanto, restam poucas áreas de vegetação remanescente. Com o crescimento urbano cada vez maior, a partir sobretudo da década de 1960, tornou-se um grande desafio o plantio e a manutenção de árvores e a instalação de praças com alguma área verde no território da cidade. As áreas mais densamente povoadas, como os DICs e os Distrito de Campo Grande e Ouro Verde, ficaram praticamente desprovidas de áreas verdes urbanizadas.

 

Capa do livro de 1997, de José Pedro Martins, mostrando a desigualdade na distribuição de áreas verdes em Campinas

Capa do livro de 1997, de José Pedro Martins, mostrando a desigualdade na distribuição de áreas verdes em Campinas

Essa situação foi denunciada no livro “Campinas do Matto Grosso”, de José Pedro Soares Martins, de 1997. O livro cita a inauguração do Parque Ecológico Monsenhor Emilio José Salim, com 1,1 milhão de metros quadrados, em 1991, como a última grande área verde entregue no município pelo poder público. O Parque Ecológico é istrado pelo Estado de São Paulo.

“Mesmo com o Parque Ecológico, entretanto, ficou muito desigual a distribuição de áreas verdes urbanizadas em território campineiro. As maiores áreas – o próprio Ecológico, o Taquaral e o Bosque dos Jequitibás – estão situadas em bairros considerados nobres da cidade. O o da população de baixa renda continuou dificultado”, afirma Martins, na página 59 do livro.

O livro também cita a tese de mestrado defendida na Unicamp, pela arquiteta argentina Andrea Maria Morero, concluindo que somente 236 praças de Campinas tinham algum equipamento público de lazer. No segundo semestre de 1997, Campinas tinha 20 bosques e 1.250 praças públicas. Outra conclusão da tese da arquiteta foi que a maior parte das praças com algum equipamento de lazer estava localizada em bairros de maior poder aquisitivo.

É claro que essa situação se transformou nos últimos 28 anos. Houve maior empenho do poder público em oferecer novas áreas verdes urbanizadas para a população, por exemplo com a criação de parques lineares. Entretanto, o panorama ainda é de desigualdade no o a essas áreas e isso ficou evidente com a recente divulgação de dados da plataforma UrbVerde (USP, UFBA, UFSCar, entre outras), indicando as regiões com  riscos de ilhas de calor em Campinas.

Benefícios das microflorestas,  conforme apresentação do secretário Ernesto Paulella (Foto José Pedro Soares Martins)

Benefícios das microflorestas, conforme apresentação do secretário Ernesto Paulella (Foto José Pedro Soares Martins)

A plataforma apontou justamente áreas densamente povoadas, e com maioria de população de baixa renda, como aquelas mais afetadas pelas ilhas de calor, fenômeno que tem-se intensificado com as mudanças climáticas  globais: Vila Costa e Silva, Vila Miguel Vicente Cury, Jardim Santa Mônica, Vila Padre Anchieta e Campo Grande. Nestas áreas, a temperatura média é geralmente maior do que em outras regiões da cidade.

Segundo a UrbVerde, Campinas é a quarta do estado de São Paulo e a maior do interior mais vulnerável a ilhas de calor. Campinas tem oito níveis de ilhas de calor, com temperatura média de superfície de 30 graus.  Outras regiões da cidade, como os distritos de Sousas e Barão Geraldo, também são suscetíveis ao fenômeno.

Um dos propósitos do projeto das microflorestas urbanas, que acaba de ser lançado pela Prefeitura, é exatamente promover ambientes com temperaturas mais agradáveis nas áreas mais vulneráveis a ondas de calor, em grande parte aquelas com menor presença de áreas verdes urbanizadas.

Como explicou o secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, microflorestas urbanas são aglomerados de árvores mais densos que a arborização urbana ou até mesmo plantios de reflorestamento convencional. Estas microflorestas criam um ecossistema florestal em espaço pequeno, por exemplo: praças, rotatórias e pequenos espaços isolados em parques públicos. As microflorestas contribuem para a captura de gás carbônico, um  dos principais gases de efeito-estufa, e também para a proteção e mobilidade da fauna que tem desaparecido do tecido urbano.

Segundo o secretário, as mudas de árvores (essencialmente de espécies nativas, adequadas a cada região do tecido urbano) sairão  dos viveiros da Prefeitura. Educandos do sistema prisional farão os plantios. Entretanto, o prefeito Dario Saadi observou que o projeto de lei encaminhado à Câmara Municipal também estipula a possibilidade de adoção de microflorestas pela iniciativa privada, como já ocorre com praças.

Dario Saadi: mudanças climáticas serão tema cada vez mais presente na agenda de Campinas e RMC (Foto José Pedro Soares Martins)

Dario Saadi: mudanças climáticas serão tema cada vez mais presente na agenda de Campinas e RMC (Foto José Pedro Soares Martins)

“As microflorestas são parte das medidas contra as mudanças climáticas que estamos preparando, mas há outras”, completou Saadi, que participou das duas últimas conferências do clima (COPs), em Dubai e no Azerbaijão. Ele também pretende participar da COP-30, em novembro, em Belém, a COP da Amazônia. Saadi lembrou que acaba de assumir a presidência do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas e que esse tema, das mudanças climáticas, também estará cada vez mais presente na agenda da RMC nos próximos anos.

O presidente da Câmara Municipal, Luiz Carlos Rossini, que tem um histórico de preocupação com a questão ambiental, afirmou na cerimônia de lançamento do projeto que o tema deve ser objeto de uma audiência pública no Legislativo, inclusive para que a questão fica mais conhecida e haja novas contribuições para a melhoria da proposta. Uma proposta que pode alterar o histórico de injustiças e desigualdades na distribuição de áreas verdes em Campinas, o que entre suas consequências provoca diferenças de temperatura em momentos de ondas de calor.

 

 

 

 

 

 

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Valinhos recebe a Floresta Unimed de olho nas mudanças climáticas 2h726r /arquivos/20771 /arquivos/20771#comments Thu, 20 Feb 2025 20:07:01 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20771 <![CDATA[A Área de Proteção Ambiental (APA) da cidade foi enriquecida com o plantio de 1.000 mudas de espécies nativas da Mata Atlântica O Projeto Floresta Unimed expandiu no início de 2025. Na sexta-feira, 14 de fevereiro, um espaço na Área de Proteção Ambiental (APA) de Valinhos recebeu o plantio de 1.000 mudas de árvores nativas, ...]]> <![CDATA[

A Área de Proteção Ambiental (APA) da cidade foi enriquecida com o plantio de 1.000 mudas de espécies nativas da Mata Atlântica

O Projeto Floresta Unimed expandiu no início de 2025. Na sexta-feira, 14 de fevereiro, um espaço na Área de Proteção Ambiental (APA) de Valinhos recebeu o plantio de 1.000 mudas de árvores nativas, como parte das iniciativas da Unimed Campinas em sustentabilidade socioambiental. 

O plantio simbólico contou com a participação de 37 funcionários da Unimed Campinas, selecionados por sorteio, elevando para 4.500 o número de mudas plantadas desde 2021, ano em que a floresta foi criada em uma Área de Proteção localizada no distrito de Sousas.

O novo local escolhido, na APA de Valinhos, acomoda as 1.000 mudas e futuros plantios, facilitando a estruturação de corredores ecológicos, essenciais para a proteção da biodiversidade na Região Metropolitana de Campinas (RMC), originalmente coberta por Mata Atlântica. Essa APA está situada na divisa entre Campinas e Valinhos, às margens da Rodovia Dom Pedro I e próximo do Condomínio Gramado.

Elaborado com a supervisão da Eccaplan Consultoria em Sustentabilidade, o Projeto Floresta Unimed tem dupla finalidade. Primeiramente, contribuir para o enfrentamento das mudanças climáticas, que estão provocando eventos extremos em todas as partes do planeta. Pelo processo de fotossíntese, o plantio de árvores nativas contribui com o sequestro de carbono lançado na atmosfera.

Andréa Inácio dos Santos: "Imediatamente me candidatei e fiquei muito satisfeita por ter sido selecionada" (Foto Divulgação)

Andréa Inácio dos Santos: “Imediatamente me candidatei e fiquei muito satisfeita por ter sido selecionada” (Foto Divulgação)

Além disso, ao plantar árvores nativas típicas da Mata Atlântica, o projeto visa também proteger a biodiversidade, ameaçada pelo avanço da urbanização, desmatamentos e outros fatores.

O diretor comercial, Dr. José Windsor Ângelo Rosa, reiterou a importância dessa ação, especialmente no contexto atual em que o meio ambiente é frequentemente negligenciado e acordos internacionais são desrespeitados. “As empresas e nós, como indivíduos, devemos assumir posições firmes para evitar que a indiferença prevaleça sobre nossa obrigação com o planeta”, destacou.

Essa iniciativa da Unimed Campinas está alinhada com os esforços realizados na RMC no enfrentamento das mudanças climáticas, como parte da preparação para a COP-30, a ser realizada em novembro, em Belém (PA).

Em 21 de janeiro, a 1ª Conferência Intermunicipal de Meio Ambiente da Região Metropolitana de Campinas aprovou propostas alinhadas com as ações da Unimed Campinas. Uma das ações prioritárias é o incentivo à recomposição de matas nativas na RMC, objetivo do Projeto Floresta Unimed Campinas.

Viviane de Oliveira: preocupada com o planeta, pelos filhos (Foto Divulgação)

Viviane de Oliveira: preocupada com o planeta, pelos filhos (Foto Divulgação)

Primeira vez

A maioria dos colaboradores da Unimed que estiveram no plantio simbólico realizado na última sexta-feira nunca havia plantado uma árvore anteriormente. Isso inclui Andréa Inácio dos Santos, que atua há dois anos na área de Gestão de Risco em Saúde (GRS), e a técnica de enfermagem Viviane de Oliveira.

Andrea se candidatou ao plantio pois está em busca de propósitos em suas ações. “Ao tomar conhecimento desta ação, imediatamente me candidatei e fiquei muito satisfeita por ter sido selecionada”, comentou, explicando que possui 25 anos de experiência na área da saúde, mas nunca trabalhou em uma empresa tão comprometida com sustentabilidade e questões sociais e ambientais.

Viviane, por sua vez, mencionou que desde o nascimento de seus filhos ou a refletir mais sobre o meio ambiente e o futuro do planeta, decidindo então participar do plantio. “Fiquei extremamente feliz em fazer parte dessa iniciativa. No futuro, pretendo voltar para acompanhar o crescimento da muda que plantei. Sinto muito orgulho em contribuir para um futuro melhor”, declarou.

Sobre a Unimed Campinas

Compromisso com a saúde é o negócio da Unimed Campinas, a maior Unimed do interior do Brasil, que completa 55 anos de mercado em dezembro de 2025. O cuidado com o todo está no DNA da Cooperativa, que atualmente possui mais de 3.600 médicos cooperados e uma ampla rede de clínicas, hospitais e laboratórios credenciados, além dos serviços próprios, que são referência na região. A Unimed Campinas é comprometida com a qualidade de vida de mais de 750 mil pessoas em atendimento, cuidando também da comunidade. Além de toda essa estrutura, é patrocinadora de diversos projetos sociais e ambientais, promovendo cuidado integral com o meio ambiente e oferecendo oportunidades de o ao esporte, trabalho e cultura a comunidades da Região Metropolitana de Campinas. A confiança estabelecida com seus beneficiários e a solidez alcançada durante esses 54 anos garantem à Unimed Campinas mais de 70% do market share da região, além de atingir 79% em índice de satisfação dos clientes.

 

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100 anos de etanol 65n35 meio século de Proálcool: conquistas e perspectivas para o combustível que mudou o Brasil /arquivos/20563 /arquivos/20563#comments Sat, 02 Nov 2024 00:16:56 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> <![CDATA[Nova Economia]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20563 <![CDATA[Campinas, 1 de novembro de 2024 Por José Pedro Soares Martins Uma das pessoas que discursaram na solenidade de sanção presidencial da Lei do Combustível do Futuro, o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), Evandro Gussi, comentou a respeito da nova legislação: “Podemos dizer que hoje o futuro da mobilidade sustentável ...]]> <![CDATA[

Campinas, 1 de novembro de 2024

Por José Pedro Soares Martins

Uma das pessoas que discursaram na solenidade de sanção presidencial da Lei do Combustível do Futuro, o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), Evandro Gussi, comentou a respeito da nova legislação: “Podemos dizer que hoje o futuro da mobilidade sustentável chegou e é o Brasil que lidera esse processo. Só que o futuro nunca vem sozinho, não vem por inércia ou de maneira aleatória. O futuro vem pela construção das mãos humanas. E o projeto de Lei do Combustível do Futuro vai transformar esse setor”.

A cerimônia realizada na Base Aérea de Brasília, na manhã do dia 8 de outubro de 2024, que marcou a sanção, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da Lei 14.993/24, a Lei do Combustível do Futuro, representa a abertura de uma nova fase na evolução do etanol no país,  em um momento histórico para o combustível. Em 2025, serão lembrados os 100 anos da primeira vez que o etanol foi utilizado no Brasil para movimentar um veículo. Também em 2025, serão lembrados os 50 anos do lançamento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), a iniciativa governamental que deu um notável impulso para a produção do etanol da cana-de-açúcar.

Esse duplo e histórico marco na trajetória do etanol no Brasil configura o momento ideal para um balanço sobre o combustível. O protagonismo cada vez maior do etanol da cana-de-açúcar, com a decisiva participação dos empreendedores do estado de São Paulo e de uma sólida cadeia produtiva que já vinha sendo construída antes do Proálcool, teve um impacto profundo na economia nacional, foi determinante para a mobilização de relevantes recursos em ciência e tecnologia, gerou emprego e renda para milhares de brasileiros, contribuiu para ampliar a pauta de exportações e consolidou o Brasil como um país líder em combustíveis renováveis, agora com a perspectiva de influência ainda maior na esperada transição energética global, pelo incentivo que a Lei 14.993/24 dá para combustíveis como o hidrogênio e o SAF.

“Com a recente aprovação do PL Combustíveis do Futuro,  relatado pelo deputado Arnaldo Jardim, o etanol ganha ainda mais protagonismo, permitindo sua diversificação como combustível de aviação (SAF) e fonte de hidrogênio verde. Esse cenário futuro reflete o comprometimento do setor em reduzir a dependência de fósseis e adotar energias renováveis, beneficiando tanto o meio ambiente quanto a economia agrícola”,  resume o chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, um dos especialistas ouvidos pela Agência Social de Notícias, nesta avaliação sobre a trajetória do combustível que mudou o Brasil.

O Ford que fez o percurso histórico em 1925 (Foto Arquivo INT)

O Ford que fez o percurso histórico em 1925 (Foto Arquivo INT)

No princípio era o sonho dos pioneiros

Agosto de 1925, um automóvel Ford de quatro cilindros que estava sendo utilizado, por empréstimo, pela Estação Experimental de Combustíveis e Minérios (EECM), criada em 1921 pelo presidente Epitácio Pessoa, faz o primeiro trajeto utilizando álcool como combustível. E foi logo em uma corrida no Circuito da Gávea, em prova organizada pelo Automóvel Clube do Brasil. Embrião do futuro Instituto Nacional de Tecnologia (INT), de 1933, a EECM funcionava de forma precária em área da antiga Usina Açucareira, próxima à Praia Vermelha, no Rio de Janeiro.

A necessidade de o país encontrar novas fontes de combustíveis, em um momento de crescimento da frota de automóveis, já tinha sido tema de Epitácio Pessoa na Mensagem Presidencial de 1922, quando alertou para a “colossal importação da gasolina no Brasil”. Sob a coordenação do engenheiro Heraldo de Souza Matos, a EECM foi incumbida de realizar testes para a utilização de álcool em motores de explosão, como um provável substituto da gasolina importada.

Naquele momento, legislações municipais e estaduais já indicavam a possibilidade de adição de até 10% de álcool na gasolina. Mas o Brasil fabricava pouco mais de 150 mil litros anuais de álcool, e era um álcool com baixa concentração, produzido em pequenas destilarias de aguardente.

A Estação Experimental de Combustíveis e Minérios realizou, então, estudos e ensaios para adaptação da gasolina ao motor de explosão e o resultado foi considerado positivo, conforme o diretor da EECM, Ernesto Lopes da Fonseca Costa, comentou na conferência “O Álcool como Combustível Industrial no Brasil”, proferida em 23 de novembro de 1925, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

“Apesar da prova ter sido considerada demasiadamente pesada para um Ford, motivo pelo qual foi o único desta marca que ousou correr, os resultados obtidos foram completamente satisfatórios, pois percorreu 230 quilômetros, estipulados pelo regulamento da corrida, consumindo exclusivamente aguardente de 269 Cartier ou 709 G .L., à razão de 20 litros para l00 Km”, explicou Fonseca Costa, sobre a corrida da qual o veículo emprestado tinha participado, com o combustível ainda teste, naquele mesmo ano de 1925 em que Henry Ford, conforme notícia publicada no “The New York Times”, previa que o álcool seria “o combustível do futuro”.

Novos experimentos foram realizados na EECM e como consequência o presidente Getúlio Vargas ia, a 20 de fevereiro de 1931, o Decreto 19.717, estipulando a obrigatoriedade de adição de no mínimo 5% de álcool à gasolina importada. O decreto também isentava de qualquer imposto o álcool desnaturado confeccionado no Brasil e, entre outras disposição, indicava que a partir de 01 de julho de 1931 “os automóveis de propriedade ou a serviço da União, dos Estados e dos Municípios, sempre que for possível, deverão consumir álcool ou, na falta deste, carburante que contenha, pelo menos álcool na proporção de 10%”.  Esse decreto vigorou por 60 anos, sendo revogado por outro decreto, de 15 de fevereiro de 1991, assinado pelo presidente Fernando Collor de Mello.

Em junho de 1933 foi criado o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), que teria, entre suas atribuições, a de fomentar a produção de álcool anidro. O IAA de fato prossegue os estudos, em unidades próximas a áreas de produção de cana-de-açúcar, em Campos (RJ) e em Cabo (PE). As atividades na unidade pernambucana seriam interrompidas durante a Segunda Guerra Mundial.

Nesse período da segunda conflagração militar global, de grandes barreiras para importação de petróleo, em alguns estados nordestinos chegou a mais de 40% a porcentagem de álcool na gasolina. Nas três décadas seguintes, e até o nascimento do Proálcool, em 1975, a “mistura do etanol anidro à gasolina foi determinada pelo mercado internacional do açúcar, servindo o etanol de “regulador” de estoques do açúcar”, observa José Manuel Cabral de Sousa Dias, pesquisador da Embrapa Agroenergia, no artigo “O uso do etanol como combustível no Brasil vai completar um século!”

“Como consequência da composição variável, os motores dos automóveis não apresentavam desempenho regular, o que desagradava aos consumidores e à indústria automobilística”, completa Sousa Dias. Outro evento de ordem planetária, o choque do petróleo em 1973, determinaria a emergência de um novo ciclo para o etanol no Brasil, o da criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que representaria um divisor de águas na trajetória do combustível no país.

Pós-choque do petróleo, nasce o Proálcool

Em outubro de 1973, os membros da Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OPAEP) iniciaram um embargo petrolífero contra os países ocidentais que apoiaram Israel na chamada Guerra do Yom Kippur. Com a queda na produção, o preço do barril do petróleo, que era de US$ 2,90, subiu para US$ 11,65 em somente três meses. Este período ficou conhecido como o primeiro choque do petróleo, que acendeu o alerta sobre a dependência mundial desse combustível.

No Brasil, onde a preocupação com a importação de petróleo datava do início do século, a repercussão foi imediata. Em 1972, o país gastava 15% de suas exportações com a compra de petróleo e, em 1974, esse percentual subiu para 40%. Evoluiu então no governo militar e em centros de pesquisa a ideia de acelerar estudos para o estímulo a um combustível nacional que substituísse a gasolina derivada do petróleo importado.

Ainda em 1974, foi criada no âmbito da Secretaria de Tecnologia Industrial (STI), do Ministério da Indústria e Comércio, um Programa Tecnológico do Etanol. O ministro Severo Gomes havia convidado o engenheiro e físico baiano José Walter Bautista Vidal para dirigir a STI e ele permaneceu no cargo até 1978, tendo ficado conhecido como um dos “pais” do Programa Nacional do Álcool (Proálcool).

Entre os interlocutores de Bautista Vidal estava o coronel-aviador Urbano Ernesto Stumpf, então chefe da Divisão de Motores do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA). Estudos coordenados por Stumpf vinham sendo conduzidos desde 1973 no sentido de desenvolvimento de motores a gasolina que pudessem substituir aqueles movidos a gasolina.

Ao mesmo tempo, na esfera da CTI, o assessor técnico João Bosco de Siqueira reuniu um grupo de pesquisadores que tinha, entre seus membros, alguns dos profissionais que haviam atuado junto ao Instituto de Pesquisas Radioativas em Minas Gerais, em estudos pelo desenvolvimento de um programa nuclear brasileiro que não dependesse do urânio importado. Entre outros, participaram do grupo coordenado por João Bosco de Siqueira profissionais como Paulo Urban, Carlos Urban,  Luís Maurício Wanderley de Souza, Hertz Batista, Anízio Santos, Jair Melo e Firmino Fiúza.

Integrantes desse grupo, em conjunto com profissionais do Instituto Nacional de Tecnologia, elaboraram então o texto “O etanol como combustível”, divulgado em setembro de 1975 e encaminhado ao presidente da República, general Ernesto Geisel. Esse documento contém as bases do Proálcool, anunciado por Geisel em outubro de 1975 e oficializado pelo Decreto nº 76.593 de 14 de novembro de 1975.

“Fica instituído o Programa Nacional do Álcool visando ao atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos”, diz o artigo 1º. “A produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de qualquer outro insumo será incentivada através da expansão da oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, da modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras”, afirma o artigo .

De fato, nesse primeiro momento havia indefinição sobre qual seria a origem do etanol. Chegaram a ser implementados testes de fabricação a partir da mandioca em uma usina em Curvelo (MG), que acabou sendo assumida pela Petrobras, mas os experimentos não foram positivos por uma série de razões técnicas. Por outro lado, a obtenção do etanol a partir da cana-de-açúcar se mostrou cada vez mais viável e esse foi o caminho tomado pelo Proálcool.

Na primeira fase do Programa, entre 1975 e 1979, o governo federal respondeu por cerca de 75% dos investimentos, em construção de novas destilarias e expansão da área cultivada de cana-de-açúcar, como assinalam Michele Gomes da Cruz, Eziquiel Guerreiro e Augusta Pelinski Raiher, em “A evolução da produção de etanol no Brasil, no período de 1975 a 2009“. Naquele momento, a cotação do açúcar estava em baixa no mercado internacional, o que contribuiu para estimular muitos produtores a investir na fabricação do etanol da cana. Prazo de 12 anos para pagamento total dos empréstimos, carência de três anos para início de pagamentos e taxas de juros negativas foram alguns dos atrativos para os interessados em investir no setor.

Entre 1975 e 1979, em função dos estímulos oficiais no âmbito do Proálcool, a área plantada com cana-de-açúcar no Brasil cresceu de 1.969.227,00 hectares para 2.536.976,00 hectares, enquanto a produção de cana aumentou de 91.524.559,00 toneladas para 138.898.882,00 toneladas. Já a produção de etanol saltou de 580,00 metros cúbicos em 1975 para 2.854,00 metros cúbicos em 1979, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP); Instituto de Economia Agrícola (IEA) e UNICA, organizados e coligidos por Gomes da Cruz, Guerreiro e Raiher no artigo citado. A maior parte da área plantada com cana já estava situada no estado de São Paulo. O etanol anidro, misturado à gasolina A na proporção de 20%, recebeu os principais estímulos nesse primeiro momento do Proálcool.

CADEIA PRODUTIVA DA CANA E USINAS VIABILIZOU O PROÁLCOOL

Os incentivos praticados pelo governo federal foram fundamentais para o lançamento e crescimento do Proálcool, repercutindo na ampliação e fortalecimento do setor sucroalcooleiro no Brasil. Entretanto, o Programa e tudo o que ocorreu depois apenas foi possível porque já existia uma cadeia produtiva estabelecida, com produtores de cana-de-açúcar e usinas associadas para a produção de álcool. São vários empreendedores que construíram essa cadeia, pessoas com visão de futuro que depois viram o país colher os frutos que plantaram.

Impossível não lembrar do pioneirismo dos engenhos centrais e usinas instaladas em território paulista entre o final do século 19 e início do século 20, entre municípios como Piracicaba, Itu e Porto Feliz. Também foram se estabelecendo, nesses e outros outros municípios, usinas como Amália, Fortaleza, Barbacena, Fortaleza, Gurupiá, Monte Alegre e Schmidt.

Na década de 1910, os Irmãos Giuseppe e Nicola Carbone criaram a Companhia União dos Refinadores. Outro pioneiro foi Pedro (Pietro) Morganti, nascido na Toscana e que chegou ao Brasil em 1890 com 14 anos, para se tornar um dos maiores empresários do setor sucroalcooleiro. Falecido em 1941, foi proprietário entre outras da Usina Tamoio, de Araraquara, que chegou a ser a maior indústria sucroalcooleira do país e da América do Sul.

Outras famílias se dedicaram ao plantio da cana, contribuindo para o avanço da atividade em São Paulo, como Alves de Almeida, Batista, Junqueira, Nogueira, Reis de Magalhães e Rezende Barbosa. Localizada em Cosmópolis, a Usina Ester, uma das mais antigas em atividade, foi fundada ainda em 1898 por Arthur, José Paulino, Paulo de Almeida e Sidrack Nogueira, além de Antonio Carlos Silva Telles.

Famílias de descendentes de italianos também participaram ativamente na expansão da cultura da cana, como os de sobrenome Annicchino, Balbo, Bellodi, Biagi, Brunelli, Carolo, Colombo, Dedini, Frascino, Furlan, Lorenzetti, Marchesi, Malzoni, Morganti, Ometto, Pilon, Quagliato, Zanin, Zanini e Zillo. As famílias Dedini e Ometto, de modo específico, deram uma notável contribuição, com a fundação, por Mario Dedini e o compadre Pedro Ometto, do embrião das Indústrias Dedini.

Data de 1939 a fabricação, pela Dedini, do primeiro equipamento completo para usinas de cana, um conjunto de moendas para a Usina Nossa Senhora Aparecida. A expertise levou à criação da Codistil. Em 1992, Dedini e Zanini lançam a DZ Engenharia, Equipamentos e Sistemas, que se tornaria a maior fabricante mundial de equipamentos para o mercado de açúcar e álcool. Em um século de história, desde 1920, a Dedini fabricou mais de 100 usinas de cana, mais de 2.600 moendas, mais de 1.250 caldeiras; mais de 880 destilarias de etanol no Brasil e 115 plantas de cogeração de energia.

A Oficina Zanini, embrião de outra empresa fundamental para o crescimento da agroindústria canavieira, foi por sua vez criada em 1950, em Sertãozinho, com a parceria entre Ettore Zanini e Maurílio Biagi. De fato, Dedini, Ometto, Zanini, Biagi e também Zillo-Lorenzetti, Morganti, Silva Gordo, Marchesi, Nogueira e Coury/Furlan se firmaram como grandes marcas do setor, vetores essenciais para a expansão da cana e do etanol no Brasil.

O Grupo Pedro Ometto, especificamente, que se tornou em 1989 o maior produtor de açúcar e álcool do mundo, está na origem da Cosan, criada oficialmente em 2000. Em 2011, a Cosan e a Shell se uniram em t-venture para formar a Raizen, uma das gigantes globais em energia.

Campanha de propaganda do Proálcool em 1979 (Foto Memória do Transporte Brasileiro)

Campanha de propaganda do Proálcool em 1979 (Foto Memória do Transporte Brasileiro)

1979, novo choque do petróleo

Em 1979, um novo choque do petróleo reafirmou a urgência de criação de alternativas energéticas em escala global. Desta vez, o choque foi originado na revolução fundamentalista liderada pelo aiatolá Khomeini, pela deposição do governo de Xá Reza Pahlevi. Com o corte na produção de petróleo pelo Irã, os preços novamente subiram no mercado internacional. Entre 1980 e meados da década, os preços aumentaram ainda mais, com a guerra entre Irã e Iraque.

Ainda em 1979, um fato da maior relevância para o Proálcool e a história do etanol no Brasil, com o acordo firmado entre o governo federal e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) visando o começo da produção de carros movido a etanol de cana-de-açúcar. O acordo foi estabelecido após intensas negociações tendo o empresário Mário Garnero como um dos principais protagonistas.

Garnero relata que a decisão histórica de produção de carros movidos a álcool no Brasil foi tomada a partir de uma ideia que evoluiu desde um encontro que manteve com o então ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen. Após a solenidade de abertura de uma feira no Palácio de Exposições no Anhembi, Simonsen convidou Garnero para uma conversa, no banco de trás de seu automóvel. No encontro, o ministro afirmou que o Brasil ava por sérios problemas no balanço de pagamentos e que uma das soluções pensadas seria a adoção de racionamento do uso de gasolina.

Então presidente da ANFAVEA e diretor de relações industriais da Volkswagen, Garnero argumentou que o racionamento teria sérias consequências para a indústria automotiva, para a cadeia de fornecedores de autopeças, para o mercado de seguros, enfim, atingiria boa parte do PIB brasileiro e os empregos de milhares de cidadãos. O empresário pediu então um tempo para que fossem encontradas alternativas e Simonsen aceitou. Uma proposta seria apresentada na próxima reunião do Conselho Nacional de Energia (CNE), do qual Garnero era membro.

O presidente da ANFAVEA procurou então os dirigentes das principais montadoras de automóveis no Brasil, que se encontraram em reunião na sede da Volks no Brasil: Wolfgang Sauer, da própria Volkswagen; Joe Sanchez, da General Motors; Joseph O’Neil, da Ford; Silvano Valentino, da Fiat; e Werner Jessen, da Mercedes Benz. Garnero apresentou a situação para os dirigentes e Sauer manifestou-se favorável. A Fiat já estava em estudos avançados para a produção de veículo a álcool e os diretores da GM e Ford pediram um tempo para consultar suas áreas de engenharia.

O o seguinte, segundo Garnero, foi uma reunião com as lideranças do setor sucroalcooleiro e ela aconteceu no Rio de Janeiro, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O setor sucroalcooleiro imediatamente deu o aval à proposta de fabricação do automóvel a álcool, garantindo que haveria suficiente produção do combustível.

Garnero assinala que, com efeito, foi fundamental a participação dos produtores de cana-de-açúcar, como nos casos de Maurílio Biagi Filho e João Guilherme Ometto. Também cita o papel especial do então presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), Fábio Meirelles, no sentido de convencer o setor sucroalcooleiro a consolidar o estado como o grande produtor de etanol no Brasil. Os usineiros do Nordeste e do Paraná, como no caso de Jorge Wolney Attala, também foram importantes, completa o ex-presidente da ANFAVEA.

Com o apoio do setor automotivo e do segmento sucroalcooleiro, Garnero levou a proposta para a reunião em Brasília do Conselho Nacional de Energia, onde foi surpreendido com a ausência do próprio ministro Mário Henrique Simonsen, que estava demissionário. De qualquer modo o presidente da ANFAVEA apresentou a proposta, encontrando apoio em conselheiros como o ministro João Camilo Penna, da Indústria e Comércio, e o secretário-executivo do CNE, Eduardo Celestino Rodrigues, um respeitado especialista no tema.

Por outro lado, a ideia do carro a álcool encontrou forte oposição na reunião do Conselho, particularmente do general Oziel de Almeida, representante do Conselho Nacional do Petróleo que, segundo Garnero, chegou a afirmar que “este é o plano mais antinacional e antipatriótico que alguém já apresentou no Brasil”. O presidente da Petrobras, Shigeaki Ueki, também se manifestou contrário à ideia. Segundo Garnero, logo após a reunião, Ueki o convidou para almoçar na lendária Churrascaria do Lago. O presidente da Petrobras sustentou que haveria dificuldades na distribuição do álcool e na estrutura operacional da estatal.

Pouco depois da reunião do CNE, em que de qualquer forma a proposta foi aprovada, Garnero teve a oportunidade de se encontrar com o presidente João Batista Figueiredo, que lhe perguntou sobre o projeto do automóvel a álcool. Diante dos imes relatados pelo empresário, o presidente solicitou imediatamente a gestão do ministro das Minas e Energia, Cesar Cals, que por sua vez obteve de Shigeaki Ueki a adesão da Petrobras.

No dia 19 de setembro de 1979, foi assinado, no Palácio do Planalto, o protocolo histórico entre o governo federal, por meio do Ministério da Indústria e do Comércio, e a ANFAVEA, representados por Camilo Penna e Mário Garnero, para a produção do automóvel a álcool no Brasil. O acordo previa uma produção escalonada, de 250 mil veículos no primeiro ano, 300 mil no segundo e assim por diante, até a produção de 1 milhão de veículos anuais.

No mesmo dia de do acordo, ele foi divulgado nos principais jornais do mundo, em anúncio pago pelas associadas da ANFAVEA: Volkswagen, Mercedes-Benz, Saab-Scania, Ford, General Motors, Fiat Diesel, Fiat Automóvel, Toyota, Puma e Gurgel Veículos. Teve início então uma forte campanha publicitária e de comunicação, no sentido de convencer o consumidor brasileiro sobre as vantagens do automóvel a álcool.

O primeiro veículo com motor a álcool no Brasil, em escala industrial, foi lançado em 5 de julho de 1979. Era o modelo 147 da Fiat. Logo em seguida, o acordo entre a ANFAVEA e o governo impulsionou a produção por outras montadoras. Era o início na prática do segundo ciclo do Proálcool.

Foram 3 mil veículos a álcool produzidos em 1979 e em 1985 já eram 573 mil, chegando a 697 mil em 1986. A área plantada com cana-de-açúcar cresceu significativamente no período, de 2.607.628,00 hectares em 1980 para 4.314.146,00 hectares em 1987, permanecendo praticamente neste patamar na década seguinte, chegando a 5.100.405,00 hectares em 2002.

Desde meados da década de 1980, os preços do petróleo caíram significativamente, barateando os preços da gasolina. Em 1989, houve um desabastecimento de álcool, afetando a confiança do mercado. A abertura da economia, no início da década de 1990, durante o governo de Fernando Collor de Mello, abrindo o mercado para a importação de veículos, em sua maioria a gasolina, também afetou o mercado dos veículos a álcool. Uma novidade, entretanto, ocorreria em 2003, levando o Proálcool e a produção de etanol a um novo patamar no país.

Campus da Esalq, em Piracicaba: um dos centros de pesquisa  sobre a cana-de-açúcar (Foto José Pedro Soares Martins)

Campus da ESALQ, em Piracicaba: um dos centros de pesquisa sobre a cana-de-açúcar (Foto José Pedro Soares Martins)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA IMPULSIONARAM ETANOL E FORAM IMPULSIONADAS POR ELE

“O Proálcool e o etanol se expandiram e se fortaleceram no Brasil com a fundamental contribuição da ciência e tecnologia, de escolas de agricultura como a ESALQ e instituições como o Agronômico de Campinas e a Embrapa”, afirma o agrônomo Nelson Matheus, que há décadas acompanha a evolução do setor sucroalcooleiro e agricultura em geral em São Paulo. Ele mesmo formado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP), foi diretor da Associação de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo (AEASP) e evidencia o papel da ciência e tecnologia por exemplo no melhoramento genético da cana-de-açúcar, que foi decisivo para o incremento da produtividade.

De fato, desde 1933 o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) se dedica ao melhoramento genético da cana-de-açúcar. Já foram dezenas de variedades desenvolvidas pelo IAC e lançadas para o setor. Muitas delas já foram apresentadas na Agrishow, em Ribeirão Preto. Em média, 6,5 novas variedades de cana foram lançadas por ano nas últimas duas décadas, por instituições como o próprio IAC, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba, criado em 1969 e apoiado pela Copersucar, e a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA).

Duas das novas variedades consideradas de alta performance, como a IAC 2361 (Nacional) e a IAC 6166 (Regional: Paraná, Ourinhos, Assis e MS), foram apresentas pelo diretor do Instituto Agronômico, Marcos Landell, em encontro promovido pelo Grupo Ideia, nos últimos dias 4 e 5 de setembro, em Ribeirão Preto.

Importantes avanços tecnológicos no setor foram igualmente proporcionados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada a 26 de abril de 1973 e que contribuiu para a evolução da agricultura brasileira de forma geral. A Embrapa Territorial, sediada em Campinas, utiliza a tecnologia de satélite para monitorar a agricultura nacional, incluindo as áreas da cana-de-açúcar.

“A tecnologia de satélites tem sido um divisor de águas para a produção sustentável de etanol. Com ela, é possível monitorar as áreas de cultivo, a qualidade do solo e a cobertura vegetal, garantindo uma gestão mais precisa e sustentável da cana-de-açúcar”, afirma o chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti. “Conseguimos também, quase em tempo real, disparar alertas sobre queimadas e incêndios, agilizando seu combate. Além disso, o uso de dados geoespaciais permite aferir práticas como o manejo integrado de pragas e as boas práticas no uso de fertilizantes, otimizando recursos e reduzindo o impacto ambiental. Essa agricultura de precisão é uma ferramenta vital para aumentar a eficiência produtiva e assegurar que o crescimento do setor não comprometa a sustentabilidade”, completa Spadotti.

Novos investimentos em organizações de pesquisa, sobretudo em termos de incremento da sustentabilidade, têm associação direta com o setor sucroenergético. A área de cultivo da cana-de-açúcar é um dos campos de pesquisa, por exemplo, do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon), criado no início de 2023 e que foi instalado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba. “O Centro vai intensificar estudos e disseminar conhecimento sobre plantio direto, interação de lavoura, pecuária e floresta e práticas regenerativas, visando a redução das emissões e o maior sequestro de carbono na agropecuária”, sintetiza Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, docente do Departamento de Ciência do Solo da Esalq e coordenador do CCArbon. Cerri nota que o CCarbon é fruto de projeto aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), para funcionar como um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela organização.

Cerri cita o bom exemplo do setor sucroalcooleiro paulista, como case mundial de descarbonização e contribuição com a transição energética, e entende que a produção de biocombustível pode crescer ainda mais no Brasil, em várias regiões. Nesse sentido, entende que o hidrogênio verde, contemplando a produção de hidrogênio a partir de biocombustível, é o futuro em termos de energia renovável, e que o Brasil tem totais condições de liderar esse processo, a partir do que já feito no estado de São Paulo. “Quando os postos de combustíveis tiverem uma estação de produção de hidrogênio a partir do etanol, será uma enorme transformação de impacto global”, sinaliza.

Carlos Cerri, da ESALQ: setor sucroalcooleiro é exemplo de descarbonização (Foto Divulgação)

Carlos Cerri, da ESALQ: setor sucroalcooleiro é exemplo de descarbonização (Foto Divulgação)

O carro flex e a expansão do etanol

Em abril de 2003 foi lançado o primeiro carro flex do Brasil, o Gol Total Flex 1.6, resultado da parceria entre a Volkswagen e a Magneti Marelli. Em junho seguinte foi a vez do lançamento do Corsa Flexpower, desta vez consequência da parceria entre GM e Delphi. A Bosch também contribuiu significativamente para o advento e fortalecimento do carro flex no país, permitindo ao consumidor utilizar gasolina ou álcool no tanque. Foi mais um importante e decisivo incremento à expansão do etanol da cana no país.

Entre 2003, ano de lançamento, até 2012, a produção de veículos flex-fuel cresceu de 48.178 unidades para 3.162.939 unidades. No mesmo período, a fabricação de carros a gasolina caiu de 1.152.463 para 273.922 veículos, segundo dados da Anfavea.

Houve uma notável expansão dos canaviais a partir do lançamento do automóvel flex, de 5.371.020,00 hectares em 2003 para 7.531.000,00 hectares em 2009. Nesse período a produção de cana subiu de 396.012.158,00 toneladas para 612.211.200,00, com a relevante contribuição, mais uma vez, dos melhoramentos promovidos por instituições como a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas. O rendimento da cana no período evoluiu de 72,58 toneladas por hectare em 2003 para 81,29 tonelada por hectare em 2009. No mesmo período, a produção de etanol da cana saltou de 14.470,30 metros cúbicos em 2003 para 25.866,06 metros cúbicos em 2009, conforme dados da UNICA, Mapa, IPEA, Conab, ANP e IEA.

A crise financeira internacional de 2008 repercutiu fortemente em várias atividades econômicas e não foi diferente no setor do etanol.  Assim, a produção de etanol hidratado começou a cair, declinando de 18,6 bilhões de litros na safra de 2009–2010 para 13,96 bilhões de litros na safra de 2012–2013. Já a produção de etanol anidro cresceu de 7 bilhões de litros na safra de 2009–2010 para 9,6 bilhões na safra de 2012–2013.

Na safra 2013-2014, a área cultivada de cana no Brasil chegou a 10.652.691 hectares, com uma área colhida de 8.811.430 hectares. A crise econômica no país, a partir de 2014, repercutiu novamente no setor sucroenergético e a área plantada permaneceu mais ou menos no patamar de 9 a 10 milhões de hectares nos anos seguintes. Foi de 9.849.857 hectares na safra 2022-2023, com área colhida de 8.288.867 hectares.

Antônio dos Reis Pereira: só usa álcool como combustível (Foto Arquivo Pessoal)

Antônio dos Reis Pereira: só usa álcool como combustível (Foto Arquivo Pessoal)

O carro flex, em suma, mudou para melhor o panorama do etanol da cana no Brasil. Dos 39.095 automóveis flex licenciados em 2003, a frota subiu para o recorde de 2.834.334 licenciados em 2012. No ano seguinte, novos números históricos, com 2.833.091 veículos flex licenciados.  De  fato, a crise econômica brasileira a partir de 2014 repercutiu muito no mercado e a frota foi declinando nos anos seguintes, mas sempre com números acima de 1,5 milhão de veículos licenciados. Nova recuperação e em 2019 foram 2.123.841 licenciados. A pandemia de Covid-19 afetou novamente o segmento a partir de 2020 e em 2022 a frota flex licenciada foi de 1.437.713 veículos, sempre acima da frota exclusivamente a gasolina, que foi de 44.286 automóveis licenciados em 2022,  conforme dados da ANFAVEA. Desde o lançamento do carro flex, a área plantada e colhida de cana-de-açúcar apenas cresceu no país, e o mesmo na fabricação do etanol.

“Meu carro é flex e não quero outro”, diz Antônio dos Reis Pereira, nascido em Minas Gerais e morador de Campinas. Motorista profissional há mais de 35 anos, Pereira costuma afirmar que o tanto que viajou pelo Brasil daria para dar várias voltas ao mundo ou ir diversas vezes até a Lua. Ele diz que todos os automóveis que já teve foram flex, desde que essa modalidade chegou ao mercado. “Só uso álcool, o carro flex é excelente, sem comparação”, completa, resumindo o sentimento de milhares de brasileiros que diariamente experimentam e vivem na prática a grande revolução econômica e social provocada pelo etanol no país, com especial impulso a partir do Proálcool e, agora, com novas perspectivas abertas para o futuro, em função de rápidos avanços tecnológicos.

Cultivo da cana presente em 1.200 municípios (Foto Adriano Rosa)

Cultivo da cana presente em 1.200 municípios (Foto Adriano Rosa)

O ESTADO DA ARTE DO ETANOL DEPOIS DE 100 ANOS

Ficaram evidentes os impactos do etanol na economia e na sociedade brasileira, em 100 anos de uma história recheada de desafios superados, de barreiras sobrepostas pela ciência, tecnologia, empreendedorismo e ousadia. De acordo com dados do IBGE e Agrosatelite, o cultivo da cana-de-açúcar é uma atividade hoje presente em 1.200 municípios brasileiros, cerca de 20% do total, e com isso o país é o maior produtor mundial, com aproximadamente 716,4 milhões de toneladas processadas na safra 2023/2024. O Centro-Sul, com a liderança de São Paulo, soma 91,3% da produção, enquanto o Norte-Nordeste responde por 8,7%.

Como consequência desse vigor, o Brasil é o maior produtor (46 milhões de toneladas) e o maior exportador de açúcar do planeta, com 35,3 milhões de toneladas exportadas no ciclo 2023/2024,  valor correspondente a 25% da produção global e 50% da exportação mundial, segundo dados da UNICA. 

Do mesmo modo, o Brasil é o segundo maior produtor de etanol, em um ranking liderado pelos Estados Unidos. Na safra 2023/2024, o volume produzido foi de 35,9 bilhões de litros, sendo mais de 80% derivados da cana-de-açúcar. São 6,27 bilhões de litros de etanol produzidos a partir do milho.

Apesar de toda essa pujança, a cana-de-açúcar cobre somente 1,2% do território brasileiro, 0,9% dos quais destinados à produção etanol (cana e milho), conforme dados da ANP. “No início do Proálcool, foi levantado o alarmismo de que o território nacional iria se transformar em um grande canavial, expulsando das melhores terras a produção de alimentos, para dar lugar ao plantio da cana-de-açúcar”, comenta o empresário Mario Garnero. Ele nota que, entretanto, em 1979, a produção anual era de cerca de 2 milhões de metros cúbicos de álcool, a maior parte destinada para misturar a gasolina,  ao  o que a produção de grãos era de 6 milhões de toneladas. 

Quatro décadas depois, a produção de álcool em 2018 chegou a 28 milhões de metros cúbicos, enquanto a safra de grãos atingiu 230 milhões de toneladas. De acordo com o primeiro levantamento da safra 2024/2025, feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e divulgada a 15 de outubro, será batido um novo recorde de área cultivada e produção de grãos, com 81,34 milhões de hectares cultivados e produção de 322,47 milhões de toneladas, 8,3% ou 24,62 milhões de toneladas a mais do que o verificado em 2023/24. 

O setor sucroenergético é responsável pela geração de 730 mil empregos formais, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Previdência de 2023. Somados os empregos indiretos gerados pelo setor, são aproximadamente 2,2 milhões de pessoas empregadas na cadeia da cana-de-açúcar.

Segundo estudo de Moraes, Bacchi e Caldarelli (“Accelerated growth of the sugarcane, sugar, and ethanol sectors in Brazil (2000-2008): Effects on municipal gross domestic product per capita in the south-central region”, Biomass & Bioenergy, 2016), a existência de uma planta de etanol no município eleva o PIB médio per capita no ano de instalação da usina em US$ 1.098,00 enquanto o das 15 cidades mais próximas tem acréscimo médio de US$ 458,00.

O valor bruto movimentado pela cadeia sucroenergética supera US$ 100 bilhões, com um PIB de aproximadamente US$ 40 bilhões, montante equivalente a cerca de 2% do PIB brasileiro, segundo a UNICA. Ainda conforme a UNICA, o número de produtores rurais de cana-de-açúcar independentes é de cerca de 70 mil fornecedores.

Estes são os números que comprovam o sucesso do Proálcool e do empreendedorismo típico de uma cadeia produtiva cada vez mais ativa e voltada para o futuro. E com o e essencial da ciência e tecnologia, o etanol vislumbra um futuro ainda mais promissor, considerando o contexto global de muitos desafios relacionados ao enfrentamento das mudanças climáticas e às demandas da transição energética.

Eduardo Vasconcellos Romão: setor vive novo momento, com foco em dados e novos produtos no horizonte (Foto Divulgação)

Eduardo Vasconcellos Romão: setor vive novo momento, com foco em dados e novos produtos no horizonte (Foto Divulgação)

Um dos fornecedores que estão na base da cadeia produtiva é Eduardo Vasconcellos Romão, engenheiro agrônomo formado pela ESALQ e produtor na região de Jaú, interior de São Paulo. Ele é ex-presidente e o atual diretor-tesoureiro da ORPLANA – Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil, que foi fundada em 29 de junho de 1976, visando organizar a classe dos produtores e ampliar sua representatividade no Brasil e no exterior.

Com sede em Ribeirão Preto, a ORPLANA conta, atualmente, com 32 associações de fornecedores de cana, sendo 24 no estado de São Paulo, 1 no Mato Grosso, 1 no Mato Grosso do Sul, 3 em Minas Gerais e 3 em Goiás. A ORPLANA representa aproximadamente 11 mil fornecedores de cana em toda Região Centro-Sul do Brasil e a partir de setembro de 2019 ou a ter abrangência nacional.

Romão observa que, além de organizar e representar o setor, a ORPLANA atua hoje fortemente com bancos de dados, “que são fundamentais por exemplo para a cada vez mais solicitada rastreabilidade dos produtos e para receitas não agrícolas para o setor, como créditos de carbono”. O diretor da ORPLANA, que foi o primeiro brasileiro a presidir a Associação Mundial dos Produtores de Açúcar de Beterraba e de Cana (WABCG), entende que o setor sucroalcooleiro está vivendo a quarta etapa de sua história.

A primeira foi a da produção de açúcar e etanol. A segunda etapa, a da produção de energia a partir dos resíduos. A terceira, do etanol 2G, já em fase adiantada. E a quarta etapa é a dos novos produtos que serão gerados a partir do etanol, como o hidrogênio verde e o SAF. “É mais uma notável contribuição do setor para os necessários avanços da sustentabilidade e o Brasil pode confirmar uma liderança global, tem muito espaço para crescer”, diz Romão, pertencente a uma família que há gerações trabalha com a cana-de-açúcar. Uma família, portanto, que tem vivenciado na prática os avanços constantes do setor, em sintonia com os avanços tecnológicos que Romão conhece bem, como ex-aluno de uma das principais instituições científicas em agronomia na América Latina.

Gustavo Spadotti, da Embrapa: canaviais paulistas são modelo de sustentabilidade produtiva (Foto Divulgação)

Gustavo Spadotti, da Embrapa: canaviais paulistas são modelo de sustentabilidade produtiva (Foto Divulgação)

O protagonismo de São Paulo

O estado de São Paulo continua sendo líder absoluto no setor sucroenergético. Em 2000, quando a área colhida de cana no Brasil foi de 4,8 milhões de hectares, com área plantada de 4,9 milhões, São Paulo somava 2,5 milhões de área colhida.  Em 2021, quando a área plantada e colhida praticamente foram equivalentes, em torno de 10 milhões de hectares, São Paulo respondeu por 5,4 milhões de área colhida.

São 472 municípios paulistas envolvidos no cultivo da cana-de-açúcar, equivalendo a mais de 70% do total do estado. O faturamento da agroindústria canavieira no Estado de São Paulo superou R$ 105 bilhões na safra 2023/2024, segundo o Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana-SP).

O setor sucroenergético responde por quase metade do valor gerado por toda a agropecuária do Estado de São Paulo, segundo dados da UNICA. Em 2023, a atividade canavieira agregou R$ 59,2 bilhões à produção agropecuária paulista, sendo a 1ª no ranking do Valor da Produção Agropecuária (VPA) do estado, de acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA).

“A manutenção da cadeia sucroalcooleira e a expansão do etanol em São Paulo é crucial para a competitividade da agricultura paulista e para o processo de “desfossilização” – neologismo – energética no Brasil. Os canaviais paulistas já se destacam pelo uso eficiente dos recursos naturais, economia circular pela reutilização da torta de filtro e da vinhaça. e pela alta produtividade, consolidando-se como modelo de sustentabilidade produtiva”, sintetiza Gustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial, sobre o papel crucial do setor sucroenergético de São Paulo e suas perspectivas. A presença dos mais importantes centros de pesquisa sobre o setor em território paulista é  mais uma garantia de que novos caminhos sendo abertos.

O E2G E O FUTURO DO ETANOL NO BRASIL

No dia 24 de maio de 2024, a Raízen, maior produtora global de etanol da cana-de-açúcar, inaugurou  sua nova planta de Etanol de Segunda Geração (E2G), no Parque de Bioenergia Bonfim, em Guariba (SP). A segunda planta de etanol celulósico da companhia representou um investimento de R$ 1,2 bilhão e é a maior do mundo, já contando com 80% do volume contratado sobre capacidade de produção de 82 milhões de litros por ano.

“Com uma pegada de carbono 80% menor que a gasolina comum brasileira e 30% menor que o Etanol de Primeira Geração (E1G), esta iniciativa representa uma inovação tecnológica significativa no setor de bioenergia, sendo um exemplo da economia circular rentável, destacando-se pela redução de desperdícios e impactos ambientais, uma vez que aumentamos em 50% a produção sem precisar de um hectare a mais de cana e não compete com a produção de alimentos”, destacou Ricardo Mussa, CEO da Raízen.

O E2G, etanol de segunda geração, é fabricado a partir dos resíduos resultantes do processo de fabricação do etanol de primeira geração, o etanol feito da cana-de-açúcar. Este é apenas um dos avanços tecnológicos no setor do etanol da cana no Brasil, que abrem novas perspectivas para o etanol em futuro próximo. A própria Raízen, por exemplo, já anunciou a construção de nove plantas do etanol celulósico, todas com seus volumes comercializados, em euros, em contratos de longo prazo. O planejamento da empresa contempla outras onze plantas, somando 20 unidades de E2G com a capacidade de produzir 1.6 bilhão de litros por ano.

A ampliação da produção de E2G representa, entretanto, apenas uma das possibilidades abertas para o etanol no Brasil nos próximos anos. A produção de combustível de aviação (SAF) é outra delas, considerando as próprias  demandas associadas ao enfrentamento das  mudanças climáticas. Estudos indicam que o SAF pode reduzir a emissão de COentre 70% e 90%em comparação com o querosene de aviação atualmente utilizado. O SAF é processado com a utilização de hidrogênio que reage com o dióxido de carbono (CO2), gerando os hidrocarbonetos de cadeia longa semelhantes ao do querosene de aviação. Desta forma, o hidrogênio produzido a partir do etanol também é um caminho promissor para o setor sucroalcooleiro no Brasil. O futuro está em aberto e ele já está acontecendo. Nesse sentido a Lei do Combustível do Futuro, de 8 de outubro de 2024, pode ser de fato o portal para um novo e brilhante período da história de sucesso do etanol no país, contemplando os avanços robustos conquistados a partir do Proálcool.

Um futuro em aberto, com base nas conquistas socioambientais do etanol da cana e que lhe credenciam a novos voos no cenário da urgente transição energética global. De acordo com estudo publicado no início de 2023, entre 2000 e 2020 o setor canavieiro brasileiro retirou em média 9,8 milhões de toneladas de CO2 por ano da atmosfera. Isto significa a captura de 196 MtCO2 em duas décadas pelo segmento, de acordo com estudo assinado por pesquisadores da Agroicone, Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e Embrapa Meio Ambiente.

O estudo revelou que 25% da área plantada com cana-de-açúcar em 2020 já tinham essa finalidade em 2000. Os 6,1 milhões de hectares acrescidos com a cultura em duas décadas corresponderam à conversão de áreas que, antes, eram destinadas a pastagens (60%), culturas anuais (16%) e mosaicos (22%). Somente 1,6% das novas áreas plantadas com cana-de-açúcar eram originalmente de vegetação nativa.

Do mesmo modo, o consumo de etanol hidratado pelos automóveis flex, combinado à mistura atual obrigatória de 27% de etanol anidro na gasolina, reduziu a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em mais de 660 milhões de toneladas de CO2eq desde março de 2003 (data do lançamento dos veículos flex no Brasil), até dezembro de 2023, segundo dados da UNICA, com base em informações da ANFAVEA.

Outro ganho notável é derivado da bioeletricidade gerada a partir do processamento da cana, geralmente próxima dos centros consumidores, o que significa redução das perdas do sistema e a necessidade de investimentos em transmissão. Em 2023, a geração de bioeletricidade para a rede a partir da biomassa de cana foi de 21 TWh. É um montante equivalente a cerca de 25% da geração de energia elétrica pela Usina Itaipu em 2023 ou a atender 4% de todo consumo nacional do Brasil no ano, ou 10,8 milhões de unidades consumidoras residenciais, estima a Unica. Segundo o Balanço Energético Nacional 2024, da Empresa de Pesquisa Energética, a capacidade instalada de geração de eletricidade a partir do bagaço da cana aumentou de 9.881 megawatts em 2014 para 11.988 MW em 2023.

Fabio Raya, pesquisador da Unicamp: "Potencial do agave é imenso" (Foto Divulgação)

Fabio Raya, pesquisador da Unicamp: “Potencial do agave é imenso” (Foto Divulgação)

AGAVE É NOVA OPÇÃO PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL

A seca intensa verificada neste ano no estado de São Paulo e grande parte do Brasil não deixou dúvidas sobre a urgência de busca de novos roteiros para viabilizar a transição energética. Pois uma planta originária do México, mas que se adaptou muito bem no semi-árido e outras regiões do Brasil, pode vir a ser mais uma importante opção no cardápio de alternativas para a produção do etanol no país. É o agave, uma planta que está na origem da fabricação tanto da tequila quanto das fibras de sisal e que está no centro de linhas de pesquisa envolvendo duas das principais instituições científicas paulistas, ambas sediadas em Campinas, a Unicamp e o Instituto Agronômico.

A Unicamp é uma das parceiras, ao lado da Shell e do Senai Cimatec, da Bahia, entre outras instituições, do Programa Brave – Brazil Agave Development, lançado em novembro de 2022 e que contempla a construção de uma biorrefinaria de etanol a partir do agave na caatinga baiana. O Brave, que também envolve USP, Unesp e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), abrange o trabalho de dezenas de pesquisadores, empenhados na viabilização do uso do agave para a produção de etanol.

“O potencial do agave para a transição energética é imenso”, afirma Fabio Raya, pesquisador do Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE) do Instituto de Biologia da Unicamp. Ele nota que, perfeitamente adaptado ao semi-árido, o agave, entre outros diferenciais, precisa de um volume de chuvas de 300 a 800 milímetros por ano, por hectare, enquando a cana-de-açúcar demanda um volume de 1.200 a 1.800 milímetros de chuvas anuais, por hectare. Além do mais, o agave consegue resistir a longos períodos sem chuva.

Raya lembra também que o rendimento do agave por hectare pode chegar a 880 toneladas de alta densidade energética, proporcionando ainda o armazenamento de 617,7 toneladas de água e a captura de 385,4 toneladas de carbono. Outro dado que ratifica as enormes perspectivas abertas pelo uso do agave para a produção do etanol é que ele pode ser cultivado em toda exensão da caatinga, que soma 84 milhões de hectares entre a Região Nordeste e o norte de Minas Gerais, enquanto a atual produção de cana-de-açúcar abrange cerca de 8 milhões de hectares, entre o interior de São Paulo, regiões do Centro-Oeste e áreas de estados nordestinos próximas ao litoral.

Em função de todos esses elementos é que um conjunto de instituições públicas e privadas se reuniu no Brave, que já tem resultados relevantes. Foi no âmbito do programa que cientistas do LGE-IB da Unicamp aplicaram engenharia genética para desenvolver uma cepa geneticamente modificada da levedura Saccharomyces cerevisiae, que tem a capacidade de digerir o principal carboidrato presente no agave.

A cepa desenvolvida pelos pesquisadores da Unicamp, que gerou um pedido de patente encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), contribui para o processo de produção do etanol a partir do agave. As pesquisas na Unicamp sobre agave utilizaram variedades na coleção do Instituto Agronômico de Campinas.

Etanol do milho – O êxito do álcool da cana como combustível no Brasil, confirmando a tendência do país a liderar as energias renováveis, impulsionou de fato os estudos e projetos envolvendo a produção de etanol de outras espécies. É também o caso do etanol do milho, que tem produção crescente no país. Na safra de 2023/2024, a produção foi de cerca de 6 bilhões de litros, alta de 36% em relação ao ciclo anterior e de 800% nos últimos cinco anos, conforme estimativas da União Nacional do Etanol de Milho (Unem). O chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, projeta de fato um bom futuro para o etanol do milho no país, como mais um impacto positivo do sucesso do etanol da cana: “Além da cana-de-açúcar, o etanol de milho tem se mostrado uma alternativa importante para a diversificação da matriz energética brasileira. O Estado de São Paulo, ao lado do Centro-Oeste, tem adotado essa cultura de forma estratégica, complementando a produção de etanol de cana e oferecendo coprodutos valiosos como o DDG (Dried Distillers Grains ou, traduzido, grãos secos de destilaria) para ração animal e óleo de milho, ambos com alto valor agregado. O avanço do etanol de milho contribui para aumentar a oferta de bioenergia e ajuda a garantir a segurança alimentar e energética, reforçando a importância do Brasil como líder global na transição para energias renováveis”.

Ministros João Camilo Penna, da Indústria e Comércio, e Amaury Stabile, da Agricultura, saindo de reunião sobre o Proálcool em Brasília, em janeiro de 1980 (Foto inserida no Projeto Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional)

Ministros João Camilo Penna, da Indústria e Comércio, e Amaury Stabile, da Agricultura, saindo de reunião sobre o Proálcool em Brasília, em janeiro de 1980 (Foto inserida no Projeto Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional)

SNI MONITOROU TRAJETÓRIA DO PROÁLCOOL

O Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão mais poderoso da “comunidade de inteligência” durante o regime militar, monitorou toda a trajetória do Programa Nacional do Álcool (Proálcool) e do etanol da cana-de-açúcar. É o que mostram os documentos arquivados no Projeto Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional. Os documentos também revelam que o monitoramento do Proálcool e do etanol,  por agentes da “comunidade de inteligência”, prosseguiu mesmo durante o período de redemocratização do Brasil, com a posse do presidente José Sarney em 1985. O SNI foi criado em 13 de junho de 1964, pela lei federal 4341, logo depois portanto do movimento civil-militar de 31 de março que depôs o presidente João Goulart.

Os documentos arquivados no Projeto Memórias Reveladas mostram que o SNI e demais órgãos da “comunidade de inteligência”, como as Divisões de Segurança e Informação dos ministérios, registraram toda a documentação oficial referente ao Proálcool, desde o seu lançamento em 1975. Pronunciamentos de autoridades federais e estaduais, os projetos de financiamento aprovados, eventuais críticas ao Proálcool, como do empresário João Conrado do Amaral Gurgel, todo esse movimento relacionado ao Programa e ao etanol da cana foi acompanhado de perto pelos agentes do SNI e outras agências, que também elaboraram análises detalhadas sobre o tema.

Documento sobre visita de professores norteamericanos a usina no interior de São Paulo, encaminhado ao SNI

Documento sobre visita de professores norteamericanos a usina no interior de São Paulo, encaminhado ao SNI

O monitoramento abrangeu até detalhes como marchinhas de Carnaval encaminhadas à censura no final de 1979, com o mesmo título “Proálcool”. No dia 12 de dezembro de 1983, a Agência Central do SNI em Brasília registrou outro documento curioso, elaborado sob responsabilidade do Ministério do Exército. Era o documento originado da 11a Divisão de Infantaria Blindada, sobre a visita, em 19 de junho daquele ano, de três professores da Universidade de Nova York à Usina Santa Elisa, em Sertãozinho (SP). Segundo o documento registrado pelo, SNI, o objetivo da visita era “obter dados para uma pesquisa sobre mudanças sociais decorrentes da realização do PROGRAMA PROALCOOL”.

“Durante o período em que permaneceu trabalhando na área da Usina, em contato com trabalhadores, fazendo levantamento da qualidade de alimentação, quanto ganha por dia, modo de vida, conforto junto a sociedade e etc, o referido grupo foi acompanhado por um empregado da Usina, responsável pela manutenção de viaturas e maquinários”, relatou o agente que escreveu o documento.

Outro documento, datado de 13 de fevereiro de 1989 e sempre sob a chancela de “CONFIDENCIAL”, resumiu o Simpósio Internacional de Avaliação Sócio-Econômica da Diversificação do Setor Canavieiro”, promovido pela Planalsucar e realizado de 1 a 5 de agosto de 1988 em Águas de São Pedro, vizinha do polo sucroenergético de Piracicaba. “O encontro reuniu técnicos e empresários do BRASIL e de mais 13 países, num total de 250 participantes”, informou o responsável pelo documento, que sintetizou as apresentações de todos os conferencistas no evento. O documento deixa claro que o monitoramento sobre as atividades do setor canavieiro, presente em todo o ciclo do Proálcool, permaneceu mesmo após o fim do governo militar.

 

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Encontro de petroleiras no Rio de Janeiro aberto sob protesto da sociedade civil 6t5o46 /arquivos/20558 /arquivos/20558#comments Mon, 23 Sep 2024 19:55:25 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20558 <![CDATA[Nesta segunda-feira, 23/09, organizações da sociedade civil promoveram um protesto contra a exploração de combustíveis fósseis – principais responsáveis pelas mudanças climáticas – no Boulevard Olímpico do Rio de Janeiro. O espaço abriga o “ROGe, Conectando Energias”, congresso e feira de exposição do setor de petróleo e gás natural, que reunirá CEOs e representantes de ...]]> <![CDATA[

Nesta segunda-feira, 23/09, organizações da sociedade civil promoveram um protesto contra a exploração de combustíveis fósseis – principais responsáveis pelas mudanças climáticas – no Boulevard Olímpico do Rio de Janeiro. O espaço abriga o “ROGe, Conectando Energias”, congresso e feira de exposição do setor de petróleo e gás natural, que reunirá CEOs e representantes de grandes petroleiras, como Petrobras, Shell, BP, Exxon e Total. O evento é promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) ao mesmo tempo em que a cidade de Nova York recebe a Semana do Clima.

Com patrocínio principal do governo federal e da Petrobras, são esperados mais de 70 mil visitantes, de 65 países, incluindo autoridades e investidores, para promover a exploração de fósseis. Embora o ROGe se apresente como uma plataforma inovadora, os ambientalistas consideram o evento um “Saldão do Fim do Mundo”, perpetuando práticas que ameaçam a vida no planeta.

O protesto – pacífico – levou ao Boulevard Olímpico um inflável gigante com a foto dos executivos das petroleiras e a frase “Eles lucram, a gente sofre”. Em diversos bairros do Rio de Janeiro, foram espalhados cartazes para expor a responsabilidade das grandes corporações de petróleo pela atual emergência climática. A presença das petroleiras levanta questões cruciais sobre a transição para um futuro sustentável.

“Enquanto uma parte do governo brasileiro participa da Semana do Clima em Nova York, com foco em discutir ações concretas para enfrentar a crise climática, outra parte recebe os principais executivos do setor fóssil do mundo para a “Semana brasileira do petróleo e gás”, afirma o diretor para América Latina e Caribe da 350.org, Ilan Zugman. “O Brasil vem sofrendo alguns de seus piores eventos climáticos extremos, a resposta deveria ser fácil, mas até o momento não é. O país busca protagonismo internacional na agenda climática através do G20 e da COP30, então, chegou a hora de tomar suas decisões”, conclui Ilan.

Os eventos climáticos extremos não se restringem ao Brasil. Recentemente, tempestades incomuns afetaram a Europa Central e Oriental, e o tufão Yagi atingiu 1 o sudeste asiático. “As mudanças climáticas estão gerando consequências severas, e as petroleiras parecem alheias a isso. Na COP28, em Dubai, os países signatários do Acordo de Paris concordaram com a transição energética e se comprometeram a triplicar os investimentos em energias renováveis.

Mas a realidade é que as petroleiras continuam a promover a exploração de combustíveis fósseis, na contramão do que diz a ciência”, alerta Tica Minami, gerente de projetos do ClimaInfo. A situação se agrava com a insistência da Petrobras em explorar petróleo e gás na Amazônia, uma região de altíssima sensibilidade ambiental.

Ações de responsabilização contra empresas do setor fóssil aumentam a cada ano (Foto Tayná Uràz)

Ações de responsabilização contra empresas do setor fóssil aumentam a cada ano (Foto Tayná Uràz)

 

Em Nova York, a conservação da Amazônia é considerada parte essencial da saúde planetária. Já a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, defende perfurar poços na foz do rio Amazonas, fazendo coro com os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, que defendem a exploração “até a última gota”.

“As grandes empresas de petróleo deveriam priorizar investimentos para as soluções energéticas capazes de reduzir a demanda por óleo e gás e incluir em seus planos estratégicos o cronograma e os recursos para descontinuar o uso do petróleo”, diz Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente. “No setor elétrico, essas soluções já são econômicas e operantes por meio de energia solar, eólica e tecnologias de armazenamento. Não há desculpas.”

Um relatório recém divulgado pela Oil Change International e Zero Carbon Analytics, revela que existem pelo menos 86 ações judiciais ativas contra grandes corporações de petróleo, gás e carvão. O número de processos cresceu quase três vezes desde a adoção do Acordo de Paris em 2015, evidenciando um movimento global por responsabilização. Também com foco na resistência, a cidade de Haia fez história ao aprovar na semana ada, de maneira pioneira, uma lei que proíbe a publicidade de combustíveis fósseis e serviços de alto carbono a partir de 1º de janeiro de 2025.

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Microexplosão atmosférica motivou compra de radar para a RMC enfrentar eventos extremos 365b68 /arquivos/20551 /arquivos/20551#comments Fri, 13 Sep 2024 19:35:03 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20551 <![CDATA[Por José Pedro Martins Especial para o Hora Campinas e Agência Social de Notícias      A aquisição de um radar meteorológico de última geração, para monitoramento de eventos climáticos extremos na Região Metropolitana de Campinas (RMC), foi motivada pela microexplosão atmosférica ocorrida em 5 de junho de 2016. Naquela data em que se comemorava ...]]> <![CDATA[

Por José Pedro Martins

Especial para o Hora Campinas e Agência Social de Notícias

     A aquisição de um radar meteorológico de última geração, para monitoramento de eventos climáticos extremos na Região Metropolitana de Campinas (RMC), foi motivada pela microexplosão atmosférica ocorrida em 5 de junho de 2016. Naquela data em que se comemorava mais um Dia Mundial do Meio Ambiente, Campinas foi atingida por uma microexplosão que deixou um rastro de destruição pela cidade.

      Já em 2017 começaram as gestões para a compra do radar, que chegou hoje no Aeroporto Internacional de Viracopos, vindo dos Estados Unidos, e será instalado no Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp. O equipamento vai compor o Centro Regional de Meteorologia da RMC, que é fruto de uma mobilização do conjunto dos 20 municípios e do Conselho de Desenvolvimento da Região, atualmente presidido pelo prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis.

      “Será um avanço muito grande para o planejamento de situações de desastres na RMC. O radar terá um alcance de no mínimo 60 quilômetros a partir da Unicamp. Atualmente, a região depende de informações de radar instalado em Bauru, a cerca de 240 quilômetros”, comenta Sidnei Furtado Fernandes, coordenador regional da Defesa Civil e diretor do órgão em Campinas. Ele participa desde o início das conversas pela aquisição do radar meteorológico, como parte do esforço de aprimoramento da capacidade regional de enfrentamento dos eventos climáticos extremos e desastres em geral.

Microexplosão e rastro de destruição –  O radar foi adquirido com recursos do FundoCamp, que é vinculado à Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp) e destina recursos para obras e projetos prioritários para a região, debatidos nas Câmaras Temáticas específicas e aprovados pelo Conselho de Desenvolvimento da RMC. Composto por representantes dos 20 municípios da RMC e do Estado, o Conselho é o órgão máximo da Região Metropolitana.

De fato, a compra de um radar meteorológico com a tecnologia mais moderna foi considerada fundamental pelo conjunto da RMC, após o evento climático extremo registrado em Campinas em 5 de junho de 2016. Foram poucos segundos e estavam no chão tanto jequitibás-rosa centenários, localizados em área do Instituto Agronômico de Campinas, como palmeiras imperiais então recém-plantadas. Estes foram alguns dos marcos localizados, respectivamente, no início e no final da rota da destruição provocada por microexplosões atmosféricas na madrugada daquele domingo, em que a cidade acordou apavorada.

    Centenas de árvores derrubadas, destelhamento de residências e complexos como o Galleria Shopping, corte de energia para milhares de pessoas e várias ruas e avenidas interditadas: este foi o saldo material dos impactos de ventos que chegaram a 120 km por hora. Bambini, Educandário Eurípedes e Lar dos Velhinhos de Campinas foram atingidos, assim como residências do Caminhos de São Conrado, em Sousas. 

    O complexo social reunindo o Educandário Eurípides, a Editora “Allan Kardec” e a Creche Mãe Luiza foi duramente atingido. O Educandário teve o telhado quase todo destruído. Mais de 60 voluntários trabalharam ainda durante o domingo na limpeza do local.  

A intensa ventania seguiu mais o menos a direção da avenida Dr.Theodureto de Almeida Camargo, fazendo vários estragos no alto do Taquaral. Muitas árvores caíram, na própria avenida Dr.Theodureto e em ruas próximas, como Padre Domingos Giovanini e Fernão Lopes.

Depois do Taquaral os ventos mais fortes foram registrados na região do Parque São Quirino, Residencial Vista  Verde e Jardim Madalena, até provocar grande destruição na cobertura do Galleria Shopping, na rodovia D.Pedro I. Edifícios inteiros tiveram vidros de janelas e fachadas quebrados.

O roteiro da devastação prosseguiu, com a derrubada de várias árvores no distrito de Sousas, nas proximidades do Condomínio San Conrado, que foi especialmente atingido. Também foram ao chão muitas palmeiras plantadas que tinham sido recém-plantadas, ao longo da ampliação da avenida Mackenzie.

Cobertura do Educandário Eurípedes foi praticamente toda destruída, como um dos efeitos da forte tempestade  (Foto José Pedro Martins)

Cobertura do Educandário Eurípedes foi praticamente toda destruída, como um dos efeitos da forte tempestade (Foto José Pedro Martins)

Mobilização na RMC – O alto potencial de destruição da microexplosão assustou os gestores e comunidades em geral na Região Metropolitana de Campinas. A RMC já tinha sentido o impacto de um tornado de vórtices múltiplos em Indaiatuba, em 24 de maio  de 2005. A região já pressentia, então, a necessidade de preparação para eventos climáticos extremos, que na época eram alertados por cientistas, como consequência das mudanças climáticas em curso, mas ainda sem a atenção geral de governos e grande parte da sociedade.

A microexplosão acelerou a discussão na RMC, sobre a alta relevância de preparação para eventos climáticos extremos. Em 2017 começaram os debates na Câmara Temática de Defesa Civil, que tem a participação de órgãos de Defesa Civil dos municípios e técnicos de várias áreas que atuam na prevenção de desastres.

As reflexões na Câmara Temática tiveram a influência positiva das discussões que começaram a ser intensificadas na RMC, incentivadas pela Campanha Construindo Cidades Resilientes, iniciativa da Agência das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres (UNISDR). O propósito da Campanha era justamente estimular as cidades a se prepararem de forma adequada para os impactos dos eventos climáticos extremos e desastres em geral. Desde o início e durante muitos anos a Campanha foi coordenada no Brasil por Sidnei Furtado Fernandes, o dirigente da Defesa Civil de Campinas e coordenador regional. Começando por Campinas, os municípios da RMC aram progressivamente a seguir os princípios da Campanha Construindo Cidades Resilientes.

Nos primeiros meses de 2020, teve início a pandemia de Covid-19, que representou “uma total mudança de curva”, nas palavras do coordenador Sidnei Fernandes. “Em função da Covid-19, todos os procedimentos de emergência tiveram que ser revistos. E toda a Região Metropolitana ficou ainda mais atenta para a importância da prevenção”, ele explica.

Durante a pandemia, a Câmara Temática de Defesa Civil aprovou então vários projetos de impacto para a prevenção regional voltada para desastres em geral, de calamidades como pandemias aos eventos climáticos extremos. Foi aprovada, por exemplo, a instalação de uma sala de Centro de Operações de Emergência (COE) em cada um dos 20 municípios da RMC. As salas de COE, em implantação no conjunto da região, serão equipadas com recursos tecnológicos e humanos de perfil intersetorial. Terão portanto representantes das áreas de meio ambiente, saúde, assistência social e outros em cada município, de modo que as medidas de prevenção e contra desastres sejam tomadas de forma integrada.

As operações do COE, explica Sidnei Fernandes, utilizarão informações como aquelas derivadas do radar meteorológico e outros recursos do Centro Regional de Meteorologia da RMC. A compra do radar foi igualmente aprovada pela Câmara Temática de Defesa Civil e aprovada pelo Conselho de Desenvolvimento da RMC. A maior parte dos recursos investidos no equipamento, de cerca de R$ 4,8 milhões, foi aportada pelo Fundocamp e pela própria Unicamp.

Ainda como parte do esforço regional de enfrentamento das mudanças climáticas, a Câmara Temática também aprovou a instalação de estações meteorológicos em cada um  dos 20 municípios da RMC, projeto desenvolvido em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas. As estações já foram instaladas, com recursos do Fundocamp. Como contrapartida a todos os benefícios recebidos, os municípios da RMC se comprometeram a aprimorar seus órgãos locais de Defesa Civil (ou a criá-los onde não existiam) e a aderir aos princípios da Campanha Construindo Cidades Resilientes da ONU (MCR 2030)

Com a chegada do radar meteorológico, o coordenador regional da Defesa Civil, Sidnei Fernandes, considera que a RMC dá um o essencial para a preparação no enfrentamento de eventos climáticos extremos e desastres em geral, de forma associada com a estrutura baseada no funcionamento dos COEs e demais órgãos públicos municipais e estaduais. Mas ele avisa que “será cada vez mais importante a mobilização e a capacitação das comunidades para o enfrentamento dos eventos climáticos extremos, é fundamental a autoproteção, como ficou claro nestes dias com a proliferação de incêndios”.

“Essa conquista é fruto de um esforço conjunto, resultado de uma demanda importante discutida em diversas reuniões do nosso Conselho,” disse Gustavo Reis, presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC e prefeito de Jaguariúna. “A instalação deste equipamento na Unicamp representa um avanço significativo para nossa região”, complementou Reis, prefeito que esteve à frente do Conselho da RMC em várias gestões, inclusive durante o combate à pandemia de Covid-19.

“Haverá muito trabalho a ser feito para atingir a plena capacidade (do radar meteorológico e Centro Regional de Meteorologia da RMC) de servir à população da nossa região,” comentou o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, sobre a aquisição do equipamento importado dos Estados Unidos.

O trabalho continua – Com efeito, o trabalho de capacitação da RMC para enfrentamento das mudanças climáticas não para. Em 2022, como resultado de sua atuação histórica no setor, Campinas se tornou o primeiro Centro (ou Hub) de Resiliência do Brasil, por reconhecimento do Comitê de Coordenação Global da Iniciativa Construindo Cidades Resilientes e Escritório das Nações Unidas para Redução de Desastres. Com isso, a  Defesa Civil de Campinas se credenciou para treinar outros municípios nos princípios seguidos pela MCR 2030 da ONU. Todos municípios da RMC já participaram de treinamentos, em várias áreas, assim como municípios de outras regiões.

No caso de Campinas, especificamente, a preparação para desastres também contempla iniciativas como um convênio da Defesa Civil com a Embrapa Territorial, para o uso de tecnologia de satélite em medidas preventivas.

Como nota o coordenador Sidnei Fernandes, a recente e inédita onda de queimadas por todo o território brasileiro deixou claro que “não é questão de quando os eventos climáticos extremos vão acontecer, eles já estão acontecendo”. Com seus mais de 3,5 milhões de habitantes, e um dos polos científicos e tecnológicos mais importantes do Brasil, a RMC está buscando aprimorar suas capacidades, com o essencial papel da sociedade em geral nesse momento novo e irreversível na história do planeta.

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Relatório do Ministério dos Transportes sobre BR 1ap37 319 é criticado por organizações da sociedade civil /arquivos/20432 /arquivos/20432#comments Fri, 21 Jun 2024 20:28:04 +0000 <![CDATA[ASN]]> <![CDATA[Ecodesenvolvimento]]> http://agenciasn-br.spinforma.net/?p=20432 <![CDATA[Organizações da sociedade civil se manifestaram sobre o relatório do Grupo de Trabalho (GT) BR-319, produzido pelo Ministério dos Transportes. Esse Grupo de Trabalho foi constituído em função do projeto de pavimentação da BR-319, rodovia que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM), ando por uma área sensível da Amazônia. O projeto vem sendo motivo ...]]> <![CDATA[

Organizações da sociedade civil se manifestaram sobre o relatório do Grupo de Trabalho (GT) BR-319, produzido pelo Ministério dos Transportes. Esse Grupo de Trabalho foi constituído em função do projeto de pavimentação da BR-319, rodovia que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM), ando por uma área sensível da Amazônia. O projeto vem sendo motivo de muita discussão no governo federal.

Em nota de posicionamento divulgada nesta sexta-feira, dia 21 de junho, assinada pelos coletivos Observatório BR-319, Observatório do Clima e GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental, as organizações reconhecem a importância do documento em relação às questões em torno das obras de recuperação da rodovia, assim como a abordagem de demandas defendidas há anos pela sociedade civil. No entanto, apontam preocupação com a falta de um planejamento operacional detalhado para enfrentar os impactos socioambientais com uma possível repavimentação da rodovia.

As organizações enfatizam que não são contra as obras na BR-319, mas defendem um processo decisório que respeite a legislação brasileira voltada para a proteção do meio ambiente e priorize um licenciamento ambiental inclusivo, alinhado com os direitos das populações impactadas e com a sustentabilidade socioambiental do Interflúvio Madeira-Purus.

Entre os pontos positivos apontados no relatório do governo, está a sugestão da criação de uma unidade gestora intergovernamental, porém o documento não traz detalhes sobre recursos e cronograma, nem ações efetivas para criar condições reais de governança territorial na BR-319.

“Antes que se fale em repavimentação é preciso ter um plano concreto e recursos que garantam a atuação fortalecida dos órgãos públicos para a devida gestão do território, garantindo a integridade ambiental e os direitos de povos indígenas,  comunidade tradicionais e agricultores familiares. A realidade que vemos é que na região de influência da rodovia, não existem recursos suficientes nem para implementação e proteção das Unidades de Conservação já existentes. Estão ando o carro na frente dos bois, falando em repavimentação antes de gestão, e já vimos que, na Amazônia, isso só resulta em destruição da floresta e problemas sociais”, afirmou a secretária-executiva do Observatório BR-319, Fernanda Meirelles.

Para as organizações, repavimentar a rodovia sem levar em conta a falta de governança ambiental da região vai impactar negativamente ações de combate a queimadas, desmatamento, mudanças climáticas e proteção de áreas protegidas. Para isso, é necessário que o governo federal assegure recursos financeiros e humanos. A nota também enfatiza que a licença prévia concedida para obras no trecho do meio da BR-319 está judicializada e é nula.

“Não há como dar continuidade ao processo de licenciamento da reconstrução e pavimentação do trecho do meio da BR-319. A licença prévia concedida pelo governo Bolsonaro está eivada de nulidade. Atestou-se a viabilidade ambiental da obra sem qualquer garantia de controle do desmatamento e dos impactos socioambientais, bem como sem a consulta prévia às comunidades locais”, alertou a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo.

Outro ponto de crítica ao relatório é que o documento ignora pareceres e notas técnicas de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobre as graves consequências que o asfaltamento da BR-319 pode trazer ao meio ambiente. Ao invés disso, o GT sustenta que a BR-319 é “ambientalmente viável”. O GT também ignorou informações produzidas pela academia e sociedade civil que apontam preocupações ambientais, sociais e econômicas sobre os impactos da recuperação da rodovia.

“Se a opção é pela repavimentação da BR-319, o governo federal deve conduzir um planejamento operacional  – com recursos, cronograma e capacidades institucionais – com ações efetivas para enfrentar os riscos e problemas existentes e criar condições efetivas de governança territorial”, destacou o membro da secretaria executiva do GT Infra, Brent Millikan. “Este plano deve incluir ações a serem iniciadas antes das obras, com metas claras, inclusive para servirem de ‘gatilho’ para o início das mesmas. Para avançar nesta direção, o atual GT BR-319  deveria ser ampliado para se tornar um comitê interministerial, envolvendo o comando do governo (Casa Civil/SG/PR) e órgãos chave como MMA/ICMBio/Ibama,  MDA/Incra e MPI/Funai, Iphan/MinC – contando com espaço institucional para a participação de representantes da sociedade civil”, completou Millikan.

 

Participação da sociedade civil

A nota também destaca informações distorcidas no relatório sobre a ampla participação da sociedade civil e dos povos indígenas nas audiências públicas do GT BR-319. A mais grave é a de que um representante do povo indígena Parintintin teria relatado que são favoráveis à rodovia e que houve aprovação dos estudos, apresentados em audiências públicas como requisito para emissão da licença prévia. A informação é negada pela liderança Raimundo Parintintin, que participou da audiência, mas como coordenador-regional da Coordenação Regional Madeira, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

O relatório também afirma que não houve contribuições ou apontamentos por parte das organizações da sociedade civil convidadas para as audiências públicas a respeito das obras na BR-319; porém, o convite às organizações foi feito em cima da hora, impossibilitando a participação presencial. O GT também não disponibilizou links para a participação on-line das organizações.

“O relatório técnico elaborado em 90 dias pelo Grupo de Trabalho apresenta lacunas significativas que comprometem a capacidade de abordar e gerir adequadamente os impactos ambientais e sociais de um projeto de tal magnitude”, diz trecho da nota das organizações.

A nota de posicionamento completa, com recomendações das organizações membro das redes, pode ser ada em https://observatoriobr319.org.br/wp-content/s/2024/06/Nota-de-Posicionamento-sobre-o-relatorio-do-GT-BR-319-do-Ministerio-dos-Transportes.pdf.

 

Quem assina a nota

O Observatório BR-319, o Observatório do Clima e o GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental são coletivos formados por cerca de 150 organizações da sociedade civil com atuação em diversos temas transversais à pauta socioambiental e que atuam na Amazônia.

O Observatório BR-319 (OBR-319) é formado por 14 organizações e, desde 2017, atua na área de influência da rodovia BR-319, formada por 13 municípios, 42 Unidades de Conservação (UCs) e 69 Terras Indígenas (TIs), entre os estados do Amazonas e de Rondônia. Esta rede tem o objetivo de produzir informações sobre a rodovia e os processos necessários para a adoção de medidas adequadas à realidade local, para o apoio técnico às populações locais para o manejo sustentável de recursos florestais e pesqueiros, gerando renda, incentivando o fortalecimento da organização sociocultural dessas populações e contribuindo para o desenvolvimento no Interflúvio Madeira-Purus.

O Observatório do Clima, por sua vez, é uma associação civil sem fins lucrativos e econômicos, fundada em 2002, que tem por finalidade a defesa e promoção da segurança climática e do meio ambiente por meio das suas mais de cem organizações membro. Para tanto, desenvolve uma série de atividades, dentre elas a propositura de ações judiciais. Sua atuação na área é pautada pelo rigor técnico, estudos, produção de dados e interlocução com o Poder Público e sociedade civil, sendo organização de referência na matéria objeto desta lide.

Desde 2012, o GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental tem atuado como rede de entidades da sociedade civil brasileira voltada para a incorporação da justiça socioambiental em políticas, programas e projetos de infraestrutura, especialmente nos setores de transporte e energia, com destaque para a região amazônica.Sua atuação tem se caracterizado pelo enfrentamento de ameaças de obras de alto risco socioambiental e na reparação de danos de projetos existentes como no apoio a iniciativas inovadoras de boas práticas, protagonizadas por comunidades locais, movimentos sociais e seus parceiros, caracterizadas pela integração das dimensões socioculturais, ambientais e econômicas do desenvolvimento sustentável na sua concepção e implementação.

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