A crise hídrica não representa uma preocupação apenas para os moradores do Nordeste brasileiro, que a por uma das mais severas secas da história, ou para os habitantes das regiões de São Paulo ou Campinas. A segurança hídrica é a principal preocupação do conjunto de países em termos de suas ações de adaptação às mudanças climáticas. Esta é uma das conclusões do relatório divulgado na sexta-feira, 30 de outubro, pelo Secretaria da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. O documento inquietante indica – ou ite – que as metas e ações apontadas pelos países que participarão da Conferência do Clima (COP-21) em Paris no final do ano não serão suficientes para evitar que a temperatura média global atinja no máximo 2 graus centígrados até 2100.
O relatório fez uma síntese dos documentos referentes às chamadas Contribuições Pretendida Nacionalmente Determinadas (INDCs), na prática o que 147 países pretendem fazer para a redução de suas emissões atmosféricas nas próximas décadas. Esses 147 países representam 75% dos países que aderiram à Convenção das Mudanças Climáticas e a 86% das emissões globais de gases-estufa em 2010. Portanto, trata-se de um universo mais do que representativo do que o conjunto da comunidade internacional pretende fazer para cortar as suas emissões.
Entre esse conjunto de países, 89 apontaram a segurança hídrica como área prioritária em suas ações de adaptação às mudanças climáticas. Em segundo lugar no ranking ficou a agricultura, citada por 82 países como área prioritária. Em terceiro, a área da saúde, apontada por 67 países. E em quarto, a proteção dos ecossistemas, indicada por 64 países.
O documento assinala que, entre as medidas de adaptação às mudanças climáticas apontadas pelos países, relacionadas à garantia do abastecimento de água, estão a dessalinização da água do mar, a construção de barragens para armazenamento de água e lagos artificiais, edificação de reservatório para a água derivada do derretimento de geleiras e, de forma mais ampla, a estruturação de uma sociedade baseada na economia da água.
Outros países citaram ações como perfuração de poços para obtenção de água subterrânea, instalações para coleta de água da chuva ou a substituição de retirada de água de aquíferos pela captação em fontes superficiais. Cada país, naturalmente, indicou ações conforme a sua realidade geográfica, de solos, de disponibilidade hídrica e provável impacto das mudanças climáticas.
Em resumo, as projeções a partir do que os governos sinalizaram indicam que a temperatura média global pode subir até 2,7 graus centígrados até o final do século 21. O Secretariado afirma que se trata de uma média muito melhor do que os 4 ou 5 graus de aumento de temperatura que eram projetados antes da adoção do sistema das INDCs. O relatório das Nações Unidas é divulgado cerca de um mês antes do início da Conferências das Partes (COP-21) da Convenção das Mudanças Climáticas, que será realizada em Paris. (Por José Pedro Martins)